RESUMO
DAS DISCIPLINAS CEDERJ ( 5 )
1 - PSICOPEDAGOGIA
2 - DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
3 - EDUCAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
4 - ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
1 - PSICOPEDAGOGIA
2 - DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
3 - EDUCAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
4 - ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
1 - PSICOPEDAGOGIA
Resumo aula 5 - Psicopedagogia
| A contribuição de Vygotsky para a
psicopedagogia - Aliny Lamoglia / Mara Monteiro da Cruz
Piaget, para quem a inteligência se
desenvolvia a partir da busca do organismo pelo equilíbrio.
O behaviorismo é uma teoria
psicológica, fundada por John Watson em 1913. Watson afirmava que a psicologia
só poderia se ocupar do comportamento manifesto, porque somente este é visível
e, portanto, passível de observação por uma ciência positivista. O positivismo
admite, como única fonte de conhecimento, a experiência, os fatos positivos, os
dados sensíveis.
Para Vygotsky, o sujeito se constitui na e pela relação com sua cultura. Desta
forma, a origem de suas funções psicológicas não se encontra no “espírito”, nem
nas conexões cerebrais, mas na história social (MOURA; CORRÊA, 1997).
Vygotsky propõe que a formação das
funções psíquicas superiores se devem à internalização e são mediadas pela cultura.
PRINCIPAIS CONCEITOS
DA TEORIA DE VYGOTSKY
Mediação
O
principal conceito da obra de Vygotsky é o de mediação.
Mediar é interpor algo entre uma coisa e outra. No caso do
desenvolvimento humano, mediar é interpor signos entre o sujeito do
conhecimento e o mundo. Ou, ainda, dito de forma mais específica, quando a
criança aprende uma palavra, ela passa a se relacionar com o significado
daquela palavra e não com o objeto representado pela palavra. É para isto que
servem as palavras, para que os homens possam se relacionar com as ideias que
elas encerram e não mais com os objetos em si.
Para Vygotsky (1993), “o pensamento não
é apenas expresso em palavras, é por meio delas que ele passa a existir”
Por isto costuma-se dizer que a relação
entre o pensamento e a palavra, nesta perspectiva, forma um amálgama. Amálgama é uma palavra oriunda da química e
significa que duas substâncias originais foram misturadas de tal forma que
criaram uma terceira substância que é mais do que simplesmente o somatório das
duas anteriores, tal como acontece com o hidrogênio e o oxigênio que, ao se
unirem em determinadas proporções, formam a água.
Internalização
O grande desafio a que Vygotsky se
propôs foi desenvolver uma teoria capaz de explicar como a mente humana se
forma culturalmente.
internalização, que, como o próprio nome sugere, é a
transferência de um conteúdo (conceito, significado) para o interior do
indivíduo. Em outras palavras, Vygotsky preocupou‑se em explicitar como um
conteúdo que é veiculado entre as pessoas – interpsíquico – passa a fazer
parte da realidade interna de uma criança.
Quanto mais os homens se apropriam de
signos linguísticos, mais se tornam capazes de transformar o seu mundo
interno, ou seja, o seu psiquismo.
De maneira brilhante, Vygotsky estendeu
o conceito de mediação na interação homem-ambiente pelo uso de instrumentos, ao
uso de signos. Os sistemas de signos (a linguagem, a escrita, o sistema de
números), assim como o sistema de instrumentos, são criados pelas sociedades ao
longo do curso da história humana e mudam a forma social e o nível de seu
desenvolvimento cultural. Vygotsky acreditava que os sistemas de signos
produzidos culturalmente provocam transformações comportamentais.
Em síntese, a interação do homem com o
meio é mediada pelos instrumentos e pelos signos. Os signos, por um lado, são
responsáveis pela mediação simbólica entre o sujeito e o meio, e por outro
permitem a internalização e a construção das funções mentais superiores (MOURA;
CORRÊA, 1997).
O termo “mediação” define a ação dos
instrumentos e dos signos, que se interpõem entre sujeito e objeto na relação
do homem com o meio social que o cerca. Internalização consiste em um processo
de reconstrução interna de uma operação externa com objetos com os quais o
aluno interagiu. Um exemplo que podemos verificar nas salas de aula é o
desenvolvimento da leitura fluente. O aluno recém‑alfabetizado costuma ler com
uma certa dificuldade, “juntando as sílabas”. O professor, então, se utiliza de
recursos como diversos tipos de textos escritos (receita, bula, texto
literário, jornalístico etc.), além de promover vivências que envolvem a
leitura (o professor lê para a turma ou as crianças leem pequenos trechos para
a turma ou umas para as outras), o que consiste no processo de mediação entre o
aluno e o conhecimento. Quando o educando consegue extrair, com facilidade, o
sentido dos textos que lê, observa-se que houve a internalização dos signos escritos, o que
resulta na leitura fluente.
A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PARA A FORMAÇÃO
DE CONCEITOS
Vygotsky chama a atenção para o fato de
que animais como os chimpanzés se comunicam através de uma linguagem bem
desenvolvida, apesar de não falarem. Nos seres humanos, a fala seria um meio
de expressão desta linguagem.
A língua, sistema simbólico dos grupos
humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que
fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o
sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais
superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas. Portanto,
sociedades e culturas diferentes produzem diferentes sistemas simbólicos para
suprir suas necessidades.
A língua é fundamental para a
aprendizagem e o desenvolvimento devido ao seu papel na formação de conceitos.
O fato de não ouvir impede que o surdo desenvolva a língua oral, mas não o
desenvolvimento da língua de sinais. Esta consiste na linguagem natural das
pessoas surdas, substituindo a língua oral para elas.
Desta forma, a criança surda deve ter
contato o mais cedo possível com a língua de sinais, para evitar que tenha
prejuízos no seu desenvolvimento.
RELAÇÕES ENTRE INTERAÇÃO SOCIAL,
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
Existem pelo menos dois níveis de
desenvolvimento identificados por Vygotsky: um
real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de
fazer por si própria, e um
potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa.
A TEORIA DE VYGOTSKY E A PRÁTICA
PEDAGÓGICA
A escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional
desencadeia o processo ensino-aprendizagem. O professor tem o papel explícito
de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a
criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do
docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua
interferência na zona proximal.
A ZDP,
é um espaço, uma zona do desenvolvimento na qual a mediação opera
transformações. É onde o sujeito, seja ele pai, mãe, professor ou até mesmo
outra criança, pode interferir para promover uma aprendizagem em alguém. Vygotsky
concluiu, com seus experimentos, que a palavra consistia no mediador, por
excelência, para o desenvolvimento humano.
O autor considera que cabe à escola
elaborar programas com o objetivo de desenvolver o que está intrinsecamente
faltando no desenvolvimento dos alunos, utilizando os conhecimentos concretos
como pontos de apoio necessários e inevitáveis para o desenvolvimento do
pensamento abstrato, já que as crianças não desenvolverão espontaneamente
formas elaboradas de pensamento abstrato. Desta forma, “o ‘bom aprendizado’ é
somente aquele que se adianta ao desenvolvimento” (VYGOTSKY, 1993, p. 117).
A atuação do professor
Vygotsky critica o ensino fundamentado
nas teorias behavioristas, que veem o aluno como uma “esponja”, que deve
absorver os conteúdos alheios, ou seja, aqueles que são transmitidos pelo
professor. O autor considera que, cientificamente, é impossível exercer
influência educativa direta, porque “o saber que não passa pela experiência
pessoal não é saber” (VYGOTSKY, 2003, p. 76).
Para Vygotsky, o sujeito se constitui na e pela relação com sua cultura. Desta
forma, a origem de suas funções psicológicas não se encontra no “espírito”, nem
nas conexões cerebrais, mas na história social. Vygotsky propõe que a formação
das funções psíquicas superiores se deve à internalização e é mediada pela
cultura.
A função do professor, no
processo de ensino-aprendizagem, não é influenciar diretamente os educandos, o
que cientificamente não é possível, mas exercer uma influência indireta,
modificando o meio, para que, assim, o aluno se modifique. O professor age,
então, como organizador do meio educativo, regulando e controlando suas
interações com o educando.
Resumo aula 6 - Psicopedagogia | A afetividade
Aliny Lamoglia / Mara Monteiro da Cruz
Vygotsky, que, através do conceito de
mediação, analisa a relação do educando com o meio, demonstrando que a
aprendizagem é decorrente da influência do contexto sócio-histórico-cultural.
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE PARA OS
ESTUDOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Freud é conhecido como o “pai da
psicanálise”.
Freud foi um dos primeiros
teóricos a afirmar que o desenvolvimento do indivíduo se dá em fases ou
estádios psicossexuais. Freud foi, assim, responsável pelas primeiras
investigações acerca da sexualidade infantil.
Freud sugeriu que as fases
psicossexuais pelas quais passam as crianças se relacionam com uma área do
corpo para a qual o desejo de satisfação se dirige.
a) A fase oral
Esta fase se caracteriza pela busca do
prazer a partir da sucção. Acredita-se que se a criança não obtiver prazer a
partir da sucção, aumentará sua necessidade de gratificação no estádio oral de
morder. Devido a essas associações do desenvolvimento psicossexual com o
comportamento social é que a psicanálise considera que as primeiras relações do
bebê com os objetos a sua volta são determinantes nos rumos do desenvolvimento
da personalidade (KLEIN, 1981).
b) A fase anal
Esta fase vai aproximadamente do
primeiro ao terceiro ano de vida. A criança tem de aprender a controlar os
esfíncteres e, dessa forma, deve aprender a lidar com a frustração do desejo de
satisfazer suas necessidades imediatamente. De acordo com a forma como a mãe
lida com as produções da criança, isto é, se elogia quando ela consegue
controlar os esfíncteres até chegar ao banheiro, se supervaloriza este feito,
se demonstra impaciência ou frustração diante desta realização da criança,
poderíamos supor características de personalidades generosa, arrogante ou
ansiosa, respectivamente (KLEIN, 1981).
c) A fase fálica
A fase fálica, que vai dos
três aos cinco anos de vida, se caracteriza segundo Freud pela importância da
presença (no caso dos meninos) ou da ausência (no caso das meninas) do falo ou
pênis. A esta fase se atribui o tão conhecido “Complexo de Édipo”, que é quando
a criança sente-se atraída pelo genitor do sexo oposto e volta-se contra o
genitor do mesmo sexo. Cabe lembrar que em ambos os sexos a mãe ocupa um lugar
especial para o direcionamento da libido da criança (KLEIN, 1981).
d) O período de latência
Depois da agitação dos
primeiros anos de vida, segue-se uma fase mais tranquila que se estende até a
adolescência. Nessa fase as fantasias e os impulsos sexuais são contidos e o
desenvolvimento cognitivo e a assimilação de normas culturais se tornam
primordiais para a criança (KLEIN, 1981).
e) A fase genital
A última fase do desenvolvimento
psicossocial é a fase genital, que se dá durante a adolescência e se
caracteriza pela canalização da libido para um relacionamento íntimo com outra
pessoa. De acordo com os pressupostos psicanalíticos, se todas as fases
anteriores foram vivenciadas sem maiores transtornos, o adolescente será capaz
de experimentar a troca afetiva com outra pessoa e isto será decisivo para a
formação da sua personalidade na idade adulta ou, em outras palavras,
estruturará o seu ego e o seu superego (KLEIN, 1981).
A Psicanálise pode transmitir ao
educador (e não à Pedagogia) uma ética, um modo de ver e de entender sua
prática educativa. É um saber que pode gerar, dependendo, naturalmente, das
possibilidades subjetivas de cada educador, uma posição, uma filosofia de trabalho.
Pode contribuir, em igualdade de condições com diversas outras disciplinas,
como a Antropologia, ou a Filosofia, para formar seu pensamento.
Atribui-se a Freud a ideia de que
existiriam três funções impossíveis: governar uma nação, psicanalisar alguém e
educar uma criança. Talvez isto se relacione com a afirmação de Freud no
“Mal-estar na civilização” (1929) sobre a impossibilidade de formalizar
integralmente uma Educação de cunho humanista a partir da Psicanálise.
CONTRIBUIÇÕES DE ALGUNS PSICANALISTAS
PARA A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS
Os estudos de Bowlby
Nos estudos que empreendeu, Bowlby
verificou que existem três tipos ligeiramente diferentes que podem produzir uma
personalidade “incapaz de afeição” ou delinquente em algumas crianças:
1) falta de qualquer oportunidade para
estabelecer uma ligação com uma figura materna nos três primeiros anos de vida;
2) privação materna por um período
limitado – mínimo de três e provavelmente mais de seis meses – nos primeiros
três ou quatro anos de vida;
3) mudanças de uma figura materna para
outra durante os três primeiros anos de vida.
Em linhas gerais, Bowlby
(op. cit.) acredita que, por volta dos cinco ou seis meses de vida, o bebê está
a caminho de estabelecer uma relação com uma pessoa que identifica claramente,
por isto é comum que o bebê somente comece a “estranhar” as pessoas após esta
fase.
Até o terceiro ano de vida a criança
necessita da presença constante da mãe e aos quatro ou cinco anos a relação com
a cuidadora poderá ser mantida se o afastamento se mantiver por poucos dias ou
semanas de cada vez e, apenas depois dos sete ou oito anos, a relação pode ser
mantida, embora não sem tensões, por períodos de afastamento mais prolongados.
Bowlby também descreveu três fases da
resposta à separação por parte da criança. A primeira é a fase do protesto, caracterizada por
choro e por uma tristeza aguda ante a perda da mãe, e pelos esforços para
recuperá-la, através dos escassos recursos disponíveis à criança. A segunda
fase é a do desespero,
caracterizada por uma desesperança crescente, retraimento e um decréscimo nos
esforços para recuperar a mãe, pela qual agora a criança está de luto. Por fim,
a fase do desligamento,
caracterizada por um comportamento de “instalar-se” no ambiente de separação,
aceitando os cuidados de quaisquer figuras substitutivas disponíveis, mas com
uma redução acentuada nas demonstrações de afeto para com a mãe quando esta
voltar (1988, p. 197).
Bowby sugere que a única medida com
possibilidade de sucesso para os prejuízos que a privação materna pode causar
consiste em colocar a criança morando com um adulto que tenha empatia com a
situação da criança, seja competente para lidar com as problemáticas advindas
da separação e que disponha de tempo ilimitado para se dedicar aos cuidados com
a criança. O autor reconhece que reunir todas estas condições em uma só pessoa
é algo bem difícil e que devem-se investir esforços no sentido da manutenção do
grupo familiar original.
Os estudos de Wallon
Henri Wallon foi o
primeiro estudioso a destacar a importância do movimento no desenvolvimento
psicológico da criança. Para ele, emoção e motricidade são os pilares da
representação mental.
Seus estudos defendem que o ser humano
é composto pelas dimensões cognitiva, afetiva e motora; e se constitui, bem
como se desenvolve, na relação com o meio social.
Para Wallon, no desenvolvimento do
bebê, a dimensão motora é a que dá a condição inicial para o desenvolvimento da
dimensão afetiva porque a função tônica (referente à contração dos músculos)
aparece antes da função cinética (referente ao deslocamento dos membros do
corpo). A ação recíproca dessas duas funções possibilita o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores.
Os estágios e fases de desenvolvimento
psicomotor foram assim designados por Wallon:
• Estágio impulsivo (0 – 3 meses): a criança está fortemente ligada à
mãe e é completamente dependente da família; em resposta às necessidades
orgânicas (fome, sede, fralda molhada), o bebê reage com espasmos, gritos,
contorções. Ainda não é capaz de controlar seus movimentos.
• Estágio
emotivo (3 – 9 meses): aos
poucos, a criança começa a identificar os membros da família. O movimento se
transforma em expressão e em imitação, ocorrendo, assim, as primeiras
comunicações e ações da criança no meio ambiente. As mães e pessoas que cuidam
da criança nesta fase começam a identificar características diferenciadas em
suas expressões (por exemplo, distinguem o choro de dor do choro de “manha”).
• Estágio sensitivo-motor (1 – 2
anos): movimentos e
sensibilidade diferenciam-se cada vez mais. A criança descobre o mundo dos
objetos, desenvolve a preensão e a marcha, o que possibilita uma ampliação na
interação com o meio que a cerca.
• Estágio
projetivo (aproximadamente a partir dos 2 anos): por meio do desenvolvimento da
função simbólica, a criança é capaz de transformar os objetos através de sua
imaginação. O movimento torna-se um instrumento de ação sobre o meio onde ela
vive.
• Estágio do personalismo
(de 3 anos aos 5 anos): neste estágio, a criança se diferencia do outro,
apresentando a necessidade de ser reconhecida por ele. Progressivamente, ela
adquire consciência de sua autonomia em relação aos demais, o que possibilita
que assuma vários papéis em diferentes grupos. Por exemplo, na família, ela
percebe que é “filho” ou “filha”, bem como “irmão” ou “irmã”, enquanto, na
escola, assume outros papéis, relacionando-se com crianças da mesma idade e com
o(a) professor(a).
• Estágio categorial (dos 6 aos 11
anos): neste período em que a
criança está cursando o Ensino Fundamental, seu desenvolvimento cognitivo está
aguçado e amplia-se, de maneira geral, a sociabilidade.
• Estágio
da adolescência (a partir dos 12 anos): nesta
fase, a afetividade será o centro de interesse e a maturidade virá com o acesso
aos valores sociais e morais, inicialmente abstratos, numa preparação para a
vida social do adulto.
As ideias contemporâneas de Brazelton e
Greenspan
Para os autores, os primeiros anos são
o período mais crítico e o mais vulnerável no desenvolvimento de qualquer
criança.
A questão que segue é:
“Que tipos específicos de experiências são mais importantes e o quanto de cada
uma delas é necessário?” Na ocasião da formulação desta pergunta, porém,
proferida pelo presidente dos Estados Unidos a uma plateia de pediatras e
psiquiatras infantis presentes à Conferência da Casa Branca sobre
Desenvolvimento do Bebê e da Criança, ninguém tentou uma resposta. No livro
citado, os autores procuram responder à pergunta do presidente e também de
muitos pais.
Os autores identificaram
seis necessidades mínimas de bebês e crianças. Quais sejam:
1) a necessidade de
relacionamentos sustentadores contínuos;
2) a necessidade de
proteção física, segurança e regras;
3) a necessidade de
experiências que respeitem as diferenças individuais;
4) a necessidade de
experiências adequadas ao desenvolvimento;
5) a necessidade de
estabelecimento de limites, organização e expectativas;
6) a necessidade de comunidades
estáveis, amparadoras e de continuidade cultural.
O que se entende por relacionamentos
sustentadores contínuos? Isto significa que é importante que as crianças sejam
cuidadas pela mesma pessoa ao longo de um tempo mínimo necessário para que
possam estabelecer vínculos.
Vários autores da área do
desenvolvimento infantil parecem concordar ao dizerem que as crianças que não
são capazes de se relacionar com as outras pessoas de forma afetuosa e
confiante – crianças desconfiadas, tímidas e distantes, ou que supõem que serão
humilhadas – tornam-se isoladas e incapazes até de ouvir o que o outro diz (BRAZELTON;
GREENSPAN, 2002).
Sabe-se atualmente que a forma como a
criança aprende está ligada a sua situação emocional; e esta, por sua vez,
depende, inequivocamente, da atuação de seus cuidadores frente a sua
existência.
Freud acreditava que aos quatro ou cinco
anos a personalidade do sujeito já está formada; por isto, dedicou parte de sua
obra à explicação das fases do desenvolvimento psíquico na infância. Segundo o
autor, a forma como a criança experiencia cada uma das fases iniciais será
determinante na constituição do seu psiquismo na idade adulta.
Outros autores se dedicaram a observar
e tratar crianças em situações de risco social, como abandono, maus tratos,
perda de um ou de ambos os pais etc. e verificaram que estas condições podem
concorrer para a formação de uma personalidade delinquente.
Parece, porém, haver um
certo consenso de que “todos os conceitos intelectuais, abstratos, que as
crianças dominarão em idades posteriores, baseiam-se nos conceitos que elas
aprendem em seus primeiros relacionamentos” (BRAZELTON; GREENSPAN, 2002, p.
125).
Resumo aula 7 - Psicopedagogia | Aspectos do desenvolvimento
psicomotor -
Aliny Lamoglia / Mara Monteiro da
Cruz
CONHECENDO A PSICOMOTRICIDADE
A Sociedade Brasileira de
Psicomotricidade a define como:
A ciência que tem como objeto de estudo
o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e
externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com
os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o
corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
Temos, assim, uma ciência que procura
estudar o homem através de seu corpo, seus movimentos e seus gestos, que,
integrados ao seu psiquismo estão sempre completamente envolvidos em suas
emoções.
Atualmente, a psicomotricidade
caracteriza-se como uma ciência multidisciplinar, enriquecida com estudos de
diferentes áreas e abordagens. As questões que impulsionam os estudos da
psicomotricidade envolvem muito mais a natureza do movimento, considerando-o,
ao mesmo tempo, como forma de relacionar-se com o meio e expressão do ser
humano, do que com a complexa engrenagem anatomofisiológica que está na base de
tais movimentos.
COMO OCORRE O DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR
As relações entre o ser
humano e o meio começam na fase uterina. Por volta do segundo mês de gestação,
o feto já começa a ter sensibilidade tátil. A seguir, desenvolvem-se o olfato,
o paladar, o sistema vestibular (responsável pelo equilíbrio), a audição e a
visão.
A mãe e a criança se
comunicam por intermédio da placenta. Através do sangue que chega pelo cordão
umbilical, a criança recebe, além de oxigênio e nutrientes, a adrenalina,
hormônio produzido pela mãe em situações de estresse, que acelera o coração do
bebê. Outras reações à rotina da mãe também são percebidas.
Ao nascer, as funções de relação
musculares e sensoriais são pouco desenvolvidas e o bebê amplia sua relação com
o meio através de seu tônus muscular e atividade reflexa.
O desenvolvimento de
habilidades como a preensão e a marcha aumenta gradativamente as possibilidades
de interação da criança com o meio. Esta interação, por sua vez, estimula o
desenvolvimento das habilidades.
O desenvolvimento da
linguagem marca um período de grandes transformações no desenvolvimento da
criança. A função simbólica não é psicomotora, mas tem suas raízes na atividade
sensório-motora, o que a relaciona ao desenvolvimento psicomotor (LE BOULCH,
1982).
A função simbólica diz
respeito à relação consciente entre significados e significantes e é inerente
a todo ser humano. É importante não confundir linguagem com a língua, que
consiste no idioma que falamos. Saussurre afirma que
Não é a linguagem falada o que é
natural no homem, mas a faculdade de construir uma língua, quer dizer, um sistema
de signos diferentes que correspondem a diferentes ideias (SAUSSURRE apud
LEVIN, 2009, p. 93).
A língua é utilizada para nos
comunicarmos através da linguagem verbal (falada ou escrita), porém também nos
comunicamos através da linguagem não verbal, como, por exemplo, através de
nossa postura corporal, da mímica e de sons não verbais (suspiro, choro,
gemido). Existem inúmeros exemplos de formas de comunicação não verbal, quer
dizer, sem palavras.
o desenvolvimento da linguagem está
intimamente relacionado ao desenvolvimento psicomotor, que compreende os
seguintes aspectos:
Esquema corporal: a noção de esquema corporal é uma
construção mental que a criança realiza gradativamente, à medida que vivencia,
faz uso do próprio corpo. Nas escolas de Educação Infantil, o que deve ser
feito para favorecer esta construção pela criança é proporcionar atividades
lúdicas.
Estruturação espacial: desenvolve-se a partir da tomada de
consciência da situação de seu próprio corpo em um ambiente, em relação aos
objetos e às outras pessoas. Envolve, também, a tomada de consciência da
relação dos objetos entre si.
Estruturação Temporal: é a capacidade de situar-se em função
da sucessão dos acontecimentos (antes, durante, depois), da duração dos
intervalos (tempo longo, tempo curto, ritmo regular, irregular), da renovação
cíclica de certos períodos (dias da semana, meses, estações do ano), do caráter
irreversível do tempo.
Meur & Staes (1989) relatam que
existe o tempo subjetivo, criado pela nossa própria impressão, e o tempo objetivo,
matemático, que pode ser medido por instrumentos como relógio e cronômetro.
Lateralidade: corresponde a uma assimetria funcional:
um lado do corpo (mão, pé, olho, ouvido) é mais utilizado e mais hábil que o
outro. A lateralidade pode ser cruzada (exemplo: olho esquerdo e mão direita
dominantes).
Coordenação motora: de acordo com Clark (1994, apud
PELLEGRINI; COLS., 2010), podemos definir coordenação motora como
A ativação de várias partes do corpo
para a produção de movimentos que apresentam relação entre si, executados numa
determinada ordem, amplitude e velocidade.
Coordenação é a relação espaço-temporal
entre as partes integrantes do movimento (p. 180).
A coordenação motora pode ser ampla
(referente aos movimentos dos grandes músculos, para realizar atividades como
pular, andar) ou fina (diz respeito à habilidade e destreza manual, para
realizar atividades como escrever, desenhar, rasgar, amassar, recortar).
A estimulação adequada da criança na
Educação Infantil pode prevenir dificuldades de aprendizagem, o que torna
imprescindível que as atividades curriculares na Educação Infantil sejam
planejadas em função de atividades lúdicas que favoreçam à criança conhecer a
si mesma, ao outro e ao meio que a cerca. Algumas dificuldades percebidas no Ensino
Fundamental podem ter origem na pouca estimulação psicomotora.
O desenvolvimento da criança pode ser
avaliado de várias formas. O importante é que o parâmetro principal seja
comparar a criança com ela mesma, antes de compará-la com outras crianças da mesma
faixa etária. Isso quer dizer que, antes de utilizar escalas de
desenvolvimento, é fundamental conhecer muito bem a criança que está sendo
avaliada.
Para Luquet (citado por FERREIRA,
1998), as crianças desenham por prazer, para se divertir, como fazem em um jogo
ou brincadeira. Ele observou que seus desenhos apresentam características
comuns, que podem ser relacionadas a padrões encontrados em quatro fases, que
chamou de garatujas, realismo
fortuito, realismo gorado e realismo intelectual.
A fase das garatujas corresponde à rabiscação pelo simples prazer do ato
motor, que a criança já consegue fazer a partir de um ano de idade. Ainda não
há a noção de espaço e, por isso, ela extrapola os limites da folha de papel.
Por volta dos três anos de idade, com o
progressivo controle do movimento, a criança, eventualmente, reconhece alguma
figura em seus desenhos, nomeando-os após tê-los feito. Ainda não há a intenção
prévia de representar os objetos. Esta fase corresponde ao realismo fortuito.
É muito importante valorizar o que a
criança produz. Este incentivo favorece com que desenvolva sua habilidade e,
gradativamente, o que era esporádico vira intencional, ou seja, a criança
procura realmente representar algo através de seu desenho, o que corresponde à
fase dorealismo gorado.
A partir dos seis ou sete anos, a
criança consegue superar a incapacidade sintética e seus desenhos são bastante
realistas, apesar de retratarem não a realidade dos adultos, mas o conhecimento
que ela tem do mundo que a cerca. Nesta fase, chamada realismo intelectual,
surgem algumas características nos desenhos, como a transparência, o animismo
e a planificação.
Transparência significa desenhar os objetos como se
fossem transparentes, a fim de registrar o que há em seu interior. A criança é
capaz de desenhar, por exemplo, a casa vista de fora, com os móveis, lâmpadas e
outros detalhes de seu interior. Da mesma forma, ao representar a figura
humana, mesmo vestida, desenha o que há por baixo da roupa e dentro do corpo,
como umbigo e coração.
O animismo consiste em emprestar características
humanas a elementos da Natureza. É a fase em que a criança desenha a casa, a
árvore, ou o sol com olhos e boca, sorrindo.
A planificação consiste em representar o objeto
em projeção no solo, como se o mesmo fosse visto em linha reta.
A partir de, aproximadamente 12 anos, o
desenho da criança começa a apresentar características da fase denominada
realismo visual. Ela desenvolve a noção de proporção e perspectiva e passa a
representar o mundo tal como o vê.
Para estimular o desenvolvimento da
criança, que é demonstrado através de seu desenho, vale repetir que ela desenha o que conhece e não o
que vê, logo, para que conheça seu esquema corporal, é mais produtivo que
realize atividades lúdicas com seu próprio corpo, como jogar bolas de
diferentes tamanhos, rodar bambolê, pular amarelinha. Para que desenvolva
destreza manual, que rasgue, recorte, pinte, borde. Para que observe e interaja
com o mundo ao seu redor, que ouça e conte histórias, conheça lugares e, acima
de tudo, que brinque bastante!
Como os saberes da psicomotricidade
podem ajudar a compreender dificuldades no processo de aprendizagem.
A psicomotricidade oferece recursos
para avaliar o desenvolvimento do aluno e perceber quando atrasos ou desvios
neste processo prejudicam algum tipo de aprendizagem. Desta forma, dificuldades
no desenvolvimento do esquema corporal, estruturação espacial, estruturação
temporal, lateralidade e coordenação motora (ampla e fina) devem ser
consideradas nos casos de dificuldade de aprendizagem. Além disso, estas
crianças, muitas vezes, apresentam pouca habilidade lúdica e criativa, o que
confere uma grande importância às atividades desta natureza na avaliação e
atendimento psicopedagógicos.
A Psicomotricidade é uma ciência multidisciplinar,
que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em
relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de
perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo.
O desenvolvimento psicomotor
compreende os seguintes aspectos: esquema corporal, estruturação espacial,
estruturação temporal, lateralidade e coordenação motora (ampla e fina).
Resumo aula 8 - Psicopedagogia | Relações entre fala, linguagem
oral e aprendizagem
Aliny Lamoglia / Mara Monteiro da
Cruz
A comunicação mãe-bebê se constitui,
inicial e progressivamente, de forma não verbal. O contato iniciado na vida
intrauterina é fortalecido pela amamentação, que favorece o conhecimento
mútuo. Ao mesmo tempo em que a mãe vai aprendendo a entender as “pistas”
fornecidas pelo filho (tipos de choro, movimentos corporais etc.), o bebê
também começa a estabelecer contatos intencionais com o meio, através do olhar,
do sorriso e das expressões vocais, como emissão de sons guturais, balbucio,
imitação (DELDIME; VERMEULEN, 2004).
Antigamente, acreditava-se que o
recém-nascido deveria ficar em uma atmosfera de tranquilidade, com pouca luz e
poucos estímulos. Esta realidade vem se transformando na medida em que descobrimos
que o desenvolvimento dos bebês pode e deve ser estimulado, porque acontece na
interação com o meio ambiente.
COMO SE DESENVOLVE A LINGUAGEM ORAL?
A principal oposição à
teoria inatista do desenvolvimento da linguagem vinha dos behavioristas, como
Skinner. Se desejar, reveja os princípios do empirismo na Aula 4. Skinner
lançou, em 1957, o livro Verbal
Behavior, em que defendia que a aprendizagem da linguagem não era diferente
da aprendizagem dos outros comportamentos humanos complexos, ocorrendo a partir
da ação do meio sobre o indivíduo e da resposta deste indivíduo ao meio.
Outra corrente teórica importante neste
percurso de estudos sobre como a linguagem se desenvolve foi representada por
Piaget, que, através do construtivismo, defendia que “as estruturas da
linguagem não resultavam do meio, nem se encontravam preestabelecidas desde o
nascimento, mas sim eram construídas pela criança por meio de sua própria
atividade” (PEÑACASANOVA, 1997).
Apesar de contemporânea da
obra de Piaget, a teoria de Vygotsky levou algumas décadas para ser conhecida,
devido a questões políticas. Vygotsky, em seus estudos, defendia que a
linguagem era um fenômeno social e cultural, sustentando que na interação entre
o meio e a criança é que surgem os processos de desenvolvimento da linguagem.
Um dos pontos de divergência entre
Piaget e Vygotsky é o conceito de “fala egocêntrica”, através do qual Vygotsky
demonstra como a atividade social da criança transforma-se em atividade
individualizada. Diferentemente de Piaget, para quem a fala egocêntrica era um
sintoma de imaturidade e extinguia-se com a maturação, Vygotsky (1998, p. 37)
acreditava que a “história do processo de internalização da fala social é
também a história da socialização do intelecto prático das crianças”.
Os RCNEI enfatizam que a Educação
Infantil (de crianças de 0 a
6 anos), ao “promover experiências significativas de aprendizagem da língua,
por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos
espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao
mundo letrado pelas crianças” (p. 108)
LINGUAGEM ORAL E DEFICIÊNCIA
AUDITIVA E INTELECTUAL
O desenvolvimento da linguagem oral de
crianças com deficiência auditiva depende do grau da perda auditiva e dos
apoios terapêuticos de que ela puder dispor.
Para a autora, portanto, a palavra
verbalizada é apenas uma das formas de exteriorização da reflexão.
No caso de crianças com deficiência
intelectual, também vemos que comumente apresentam atrasos no desenvolvimento
da linguagem, que prejudicam sua interação com o meio. Retornando à teoria de
Vygotsky (1998), entendemos que este prejuízo se dá porque a linguagem, em sua
fase inicial, de comunicação interpessoal, favorece a interação da criança com
outras pessoas de seu ambiente, além de tornar possível o desenvolvimento da
fala interior, do pensamento reflexivo e o desenvolvimento de seu
comportamento voluntário.
Os bebês, apesar de ainda não terem a
linguagem desenvolvida, parecem predispostos à comunicação, o que só pode ser
prejudicado pela existência de algum padrão atípico de desenvolvimento,
deficiência ou pela falta de estimulação do meio ambiente.
O desenvolvimento da
linguagem permite a ampliação da interação com o meio, bem como favorece a
aprendizagem, pois estrutura o pensamento.
Desta forma, podemos concluir que os
educadores, de qualquer segmento, devem estar sempre atentos às questões
relativas à linguagem, tanto em relação à sua aquisição, o mais cedo possível,
quanto em relação à comunicação professor/aluno, aluno/aluno, escola/família.
Os bebês são seres sociais, porque já
nascem inseridos em um grupo, no qual irão estabelecer vínculos afetivos. Neste
contexto, desde cedo demonstram habilidades como discriminação de rostos e
vozes humanas e preferência por vozes femininas, por exemplo. As primeiras
comunicações são não verbais. No primeiro ano de vida, a criança aprende a
articular sons e a produzir as palavras de uma língua, ou idioma. Crianças
surdas aprendem as línguas compostas de signos visuais, as línguas de sinais.
Fala e linguagem oral se
desenvolvem de forma espontânea (sem a necessidade de ensino formal), mas são
beneficiadas com atividades direcionadas no ambiente escolar, que favorece o
convívio social e o desenvolvimento da autonomia dos educandos.
Resumo aula 12 Psicopedagogia | Distúrbios que afetam a
aprendizagem - Aliny Lamoglia / Mara Monteiro da Cruz
De acordo com a resolução CNE/CEB 2/2001, no artigo 5º,
consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os
que, durante o processo educacional, apresentarem:
I - Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações
no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das
atividades curriculares, compreendidas em dois grupos:
a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;
b) aquelas relacionadas a condições, disfunções,
limitações ou deficiências.
Os alunos considerados público-alvo da educação
especial são aqueles com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e
com altas habilidades/ superdotação.
Dislexia
A dislexia é um transtorno neurobiológico específico da
leitura, de origem constitucional, caracterizada por dificuldades na
decodificação de palavras isoladas, normalmente causadas por insuficiência do
processamento fonológico (MOUSINHO em LAMOGLIA, 2009).
As intervenções metodológicas devem considerar:
– o desmembramento de atividades longas em subitens
que não excedam vinte minutos de realização;
– o uso de muitos recursos visuais que auxiliem a
memorização;
– a permissão para que a criança utilize recursos
de áudio na sala de aula;
– adaptações curriculares no sentido da
temporalidade (aumentar o tempo de prova, por exemplo);
– adaptações curriculares no sentido da avaliação
(realização de provas orais em substituição às provas escritas ou uma pessoa
que possa ler a prova para o aluno disléxico);
– explicitação, para o grupo de alunos, sobre a
dificuldade, a fim de que não haja prejuízo social para a criança;
– interferência do(da) professor(a) na formação dos
grupos de trabalhos, entre outras adaptações que podem ser demandadas por cada
criança especificamente (MOUSINHO, 2009).
A dislexia é um transtorno neurobiológico que pode
dificultar ou, nos casos mais graves, impedir a associação dos fonemas com os
grafemas, necessária à aprendizagem da leitura e da escrita de línguas
alfabéticas como a nossa. A disgrafia é um problema na forma da letra, que
algumas vezes é tão diferente da forma convencional que dificulta a recuperação
(leitura) até mesmo para quem escreve e a disortografia é a constante troca de
letras que possuem sons parecidos, como por exemplo, escrever “asar” com “s” e
não com “z”
Disgrafia
Estamos diante de um caso de disgrafia quando o
desenvolvi-mento visomotor, ou seja, a capacidade de coordenar mão e visão na
realização do registro gráfico, encontra-se prejudicado ou impedido.
Disortografia
A disortografia, ao contrário da disgrafia, não diz
respeito à forma da letra, mas à troca de signos linguísticos que se parecem no
som. É o que chamamos, comumente, erro ortográfico. A intervenção, neste
caso, deve priorizar a produção textual e a autocorreção.
Transtorno fonológico
Conhecido no passado como “dislalia”, o transtorno
fonológico é a patologia da fala atribuída ao Cebolinha da Turma da Mônica.
Cebolinha, o garoto esperto, de cabelos espetados, que troca o “r” pelo “l”, é
o personagem criado em 1960 pelo cartunista Mauricio de Sousa.
Ele apresenta sintomas de meninos e meninas que
possuem um dos transtornos de linguagem mais comuns entre crianças, a dislalia,
mais recentemente denominada transtorno fonológico. Normalmente, este
transtorno é causado por pequenas disfunções
articulatórias que, com a intervenção adequada de um
fonoaudiólogo, em poucos meses é solucionado.
Transtornos globais do desenvolvimento
O que caracteriza um TGD, como é atualmente denominado
este tipo de transtorno neurobiológico, é o comprometimento de três áreas do
desenvolvimento: a comunicação recíproca, a interação e a imaginação.
Nos casos mais brandos de autismo, denominados, como
vimos anteriormente, síndrome de Asperger, pode não haver comprometimento da
inteligência, uma vez que a aprendizagem da língua foi mantida, mas haverá
comprometimentos nas esferas da vida da criança que dependerem de comunicação
recíproca, interação ou imaginação.
Nos casos mais graves, quando a interação recíproca, ou
seja, a capacidade de aprender com o outro os conceitos da cultura, está muito
– ou totalmente – comprometida, temos o autismo típico ou não verbal.
Devido à ausência da língua, instala-se um quadro de deficiência intelectual
circunstancial. A esta amplitude de gravidade do autismo, denominamos “espectro
autístico”.
Déficit específico de linguagem – DEL
O que está prejudicado são os três níveis da aprendizagem
da língua, isto é, a sintaxe (a forma como a criança ordena os sons da língua);
a semântica (o conteúdo, o significado daquilo que se quer expressar) e a
pragmática (a forma como emprega, usa socialmente a língua).
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH
Este transtorno é caracterizado por dois grandes grupos
de sinais: os sinais de desatenção e os sinais de hiperatividade/impulsividade.
Discalculia do desenvolvimento ou transtorno da
matemática
Refere-se a uma dificuldade de aprendizagem específica
que não deve ser confundida com a dificuldade comum que muitos estudantes têm
frente à matemática. A discalculia afeta de forma importante a aprendizagem das
habilidades matemáticas iniciais. Caracteriza-se por um desempenho na
aritmética muito abaixo do esperado para a idade
em crianças com inteligência normal.
A dislexia concorre com inteligência normal ou acima da
média. Uma adaptação curricular que pode ajudar muito a criança com dislexia é
a aplicação de avaliações orais.
O TDA/H caracteriza-se por uma dificuldade de
autorregulação do comportamento e da motilidade, ou seja, a criança não
consegue sozinha controlar os seus movimentos e a sua atenção. Uma estratégia
pedagógica que poderia auxiliar esta criança seria planejar atividades com, no
máximo, vinte minutos de duração, para possibilitar que ela fique atenta
durante o maior tempo possível e consiga começar e terminar a atividade.
Dentre os transtornos que afetam a aprendizagem, podemos
citar: a dislexia, a disgrafia, a disortografia, o transtorno fonológico, os
transtornos globais do desenvolvimento, o déficit específco de linguagem, o
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e a discalculia do
desenvolvimento.
Apesar de não serem considerados alunos com necessidades
educativas especiais pela atual Política Nacional de educação especial na
perspectiva da educação inclusiva (BRASIL, 2008), consideramos que o processo
de ensino-aprendizagem deve prever adaptações e estratégias que favoreçam sua
aprendizagem, tendo em vista minimizar as dificuldades apresentadas.
Após uma cuidadosa avaliação pedagógica, bem como
encaminhamento para avaliação de outros profissionais, se for o caso, deve-se
elaborar estratégias que possam ser úteis, como a realização oral de
atividades, a utilização de recursos, como calculadora e ábaco, e o planejamento
de atividades de curta duração.
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2 - DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
Resumo aulas 1 e 2 – Dinâmica e
Organização Escolar
OLHANDO A ESCOLA POR DENTRO DA ESCOLA
Sinta-se um/uma explorador/exploradora
desse ambiente físico, desse espaço de trocas culturais, dessa fábrica de
dúvidas e questionamentos, desse lugar de apresentar, consumir e produzir
conhecimento, desse sistema complexo que se insere em outro sistema mais
complexo: o sistema escolar, que, por sua vez, se insere em um sistema ainda
mais amplo:
O sistema educacional nacional. Não se
pode menosprezar, ainda, os sistemas internacionais de Educação, as pressões
decorrentes de políticas locais e internacionais...
Olhe as paredes, a forma de organizar
os espaços e o mobiliário da escola... É possível perceber uma intenção, um
momento histórico e social que faz da escola uma espécie de rebatimento das
questões que a sociedade se coloca em um momento específico. Pense agora nos os
profissionais que na escola atuam...
Reflita sobre as estruturas de poder
que pairam sobre a escola, os espaços e rituais daqueles que vão para ensinar,
para aprender, para garantir que ela permaneça operacional e para buscar
algumas soluções para os problemas cotidianamente enfrentados.
Focar nossa atenção em alguns aspectos
históricos, na relação entre a escola e o momento social, nos processos que
iniciam, interrompem e/ou mantêm certos rituais, na expectativa social e na
dinâmica que se estabelece no sistema educacional e em seus subsistemas.
Há cada vez mais alunos que abandonam a
escola privados de tudo: sem um mínimo de conhecimentos e de cultura, sem o
domínio das regras básicas da comunicação e da ciência, sem qualquer
qualificação profissional. Contrariamente às suas intenções igualitaristas, a
Escola continua, tantas vezes, a deixar os frágeis ainda mais frágeis e os
pobres ainda mais pobres.
O que é que queremos da Escola?
História ou educação para a cidadania? Literatura ou educação para a saúde? Ciência
ou prevenção da toxicodependência? Matemática ou educação sexual? Artes ou
prevenção rodoviária? Filosofia ou educação ambiental? Geografia ou educação
para os valores? E que dizer do desenvolvimento das competências
comunicacionais e tecnológicas? E da preparação para a vida profissional? E da
promoção do espírito de criatividade, de inovação e de empreendedorismo? E da
formação moral? E da prevenção da delinquência? E do ensino das regras e
comportamentos sociais? E da capacidade para enfrentar dificuldades e resolver
problemas? Tudo isto? (p 114)
Resumindo de maneira excessivamente
simplista a história da Escola no decurso do último século, podemos dizer que
ela se foi desenvolvendo por acumulação de missões e de conteúdos, numa espécie
de constante “transbordamento”, que a levou a assumir uma infinidade de
tarefas. Hoje, o currículo escolar mais parece um saco no qual, década após
década, tudo foi colocado e de onde nada foi retirado. A Escola está esmagada
por um excesso de missões e pela impossibilidade de as cumprir. Impõe-se, por
isso, definir prioridades e dizer, com clareza, aquilo que queremos da Escola.
(p.115)
Durante muito tempo, a Escola foi
apenas para alguns. Hoje ela tem de integrar todos os alunos. No entanto,
continuamos a trabalhar pedagogicamente quase do mesmo modo como trabalhávamos
quando a Escola era apenas para alguns, quando a Escola se dirigia a alunos que
já tinham sido socializados em casa, que partilhavam os mesmos valores e as
mesmas culturas.
A incapacidade para
construir novos modos de trabalho pedagógico, para lidar com a diferença e a
heterogeneidade, promovendo ao mesmo tempo uma cultura comum e partilhada, é
uma das nossas principais dificuldades. Não se trata, claro está, de aceitar
tudo e de ser tolerante em relação a tudo. Mas tudo deve ser compreendido e a
Escola deve trabalhar com a diferença para construir uma cultura comum.
Resumo aulas 3 e 4 - OLHANDO A ESCOLA
POR DENTRO DA ESCOLA: ANALISANDO ALGUNS DADOS SIGNIFICATIVOS
Podemos afirmar que a principal mudança
nesse sistema foi a universalização do ensino. Na década de 1990, conseguimos
colocar quase todas as crianças - cerca de 97% - nas escolas públicas. Isso é
um feito importantíssimo, pois até o início daquela década havia um grande
percentual de crianças que deveriam estar frequentando a escola, mas estavam
fora dela. Hoje temos mais de 30 milhões de crianças que vão para a escola
todos os dias. É praticamente a população da Argentina! Essa universalização
justifica a existência de sistemas de avaliação bem consolidados, que permitem
conhecer como a escola está funcionando. Os responsáveis pela educação básica
(secretários, diretores, professores) precisam ter informações que os auxiliem
na formulação de políticas e nas suas práticas pedagógicas. Por exemplo, para
combater a repetência, algumas redes de ensino fundamental, municipais e
estaduais, organizaram suas escolas em ciclos, evitando assim a repetência e
uma de suas conseqüências mais diretas, a evasão. São longos ciclos de
escolarização em que não há repetência entre os anos escolares.(BONAMINO, site
)
Temos alunos na escola por tempo
suficiente? As atividades da escola são suficientes para que os alunos estejam
melhor preparados para a vida em sociedade e para o bom uso do tempo escolar?
“Apesar da crise, nós conseguimos
colocar todas as crianças na escola. Nesse nível, o Estado se fez presente.
Entretanto, não conseguimos avançar em uma política orgânica que contemple as
necessárias articulações entre os diferentes níveis de ensino.”
“O SAEB faz um
acompanhamento periódico das habilidades dos alunos em determinadas séries do
Ensino Fundamental e Médio, permitindo acompanhar a evolução da qualidade de
ensino oferecido em nossas escolas de educação fundamental e média. O mesmo
acontece com as avaliações que foram sendo implementadas pelos estados, a
partir da década de 1990” .
Resumo aulas 5 e 6 – Dinâmica e
organização Escolar - PROJETO
DE ESCOLA E PROJETO DE SOCIEDADE
Conforme afirmam alguns autores, como
Paulo Freire, não existe neutralidade no ato de ensinar. Por mais que estejamos
desapercebidos do fato, somos orientados por questões ideológicas – culturais e
históricas – na nossa atuação como docentes.
Os desafios decorrentes da mudança de
eixo, do conhecimento para a capacidade de conhecer, e do foco central, do
professor que ensina para o aluno que aprende, geram na escola impactos
profundos.
Falamos hoje em universalização do
acesso à educação, mas, quando falamos em “escola para todos” de qual escola
estamos falando? Quem são todos? Nos referimos à mesma escola para todos ou há
várias e distintas escolas?
“Sem dominar aquilo que os dominantes
dominam, os dominados não chegam a se libertar da dominação. (Demerval Saviani)
“Desconfio de cursos
que estabelecem metas específicas que podem ser definidas mês a mês, semestre a
semestre ou ano a ano, porque os jovens não vão adquirir uma formação
consistente por esse procedimento. É preciso fazer com que vivenciem um
ambiente de rico, intenso e exigente estímulo intelectual. Se a universidade
dispuser desse ambiente, os jovens terão uma formação sólida, e vão atuar nas
escolas nessa mesma direção”. (Demerval Saviani)
Resumo aulas 6 e7 – Dinâmica e
Organização Escolar
O LUGAR DA ESCOLA NO TEMPO E NA CULTURA
Imagine uma escola que funciona em uma pequena
aldeia. As famílias que ali residem interessam-se diretamente pelo que acontece
na escola e suas ações complementam as ações pedagógicas desenvolvidas no
espaço escolar. A relação comunidade-escola é direta, a escola busca perceber e
respeitar o que essas famílias trazem e fazem e ofertar novos saberes para os
estudantes. Nessa escola, que podemos supor completamente alinhada aos
interesses e necessidades da comunidade, é parece haver pouco lugar para o
conflito.
Provavelmente, questões sociais – não
pedagógicas – terão espaços específicos para sua discussão e resolução nesse
grupo social. Nessa escola, o foco será apenas desenvolver ações de
ensino-aprendizagem, e o trabalho com os conhecimentos acadêmicos instituídos e
legitimados por essa sociedade.
Consegue pensar essa escola como um
lugar real? Ou mesmo essa comunidade? Bem, caso exista uma instituição escolar
ou um grupo social tal qual imaginamos aqui, difere muito da realidade da nossa
educação.
Se durante muito tempo se ia à escola
para aprender o mundo, a
sensação que se tem,
hoje, é de que o mundo não cabe mais na
escola, e que ele pode ser melhor percebido através de outras fontes de
informação.
Segundo Saviani, cada concepção
pedagógica está relacionada a maneira como a sociedade é percebida, ou seja, as
práticas pedagógicas se relacionam ao seu contexto cultural e social.
Grosso modo, podemos dizer que, no que
diz respeito à questão da marginalidade, as teorias educacionais podem ser
classificadas em dois grupos. Num primeiro grupo, temos aquelas teorias que
entendem ser a educação um instrumento de equalização social, portanto, de
superação da marginalidade. Num segundo grupo, estão às teorias que entendem
ser a educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator de
marginalização. (...)Nesse contexto, a educação é entendida como inteiramente
dependente da estrutura social geradora de marginalidade, cumprindo aí a função
de reforçar a dominação e legitimar a marginalização.
TEORIAS NÃO-CRÍTICAS
Pedagogia Tradicional
A escola se organiza, pois, como uma
agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma gradação lógica, o
acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes
são transmitidos.
Pedagogia Nova
A educação será um instrumento de correção
da marginalidade na medida em que contribuir para a constituição de uma
sociedade cujos membros, não importam as diferenças de quaisquer tipos, se
aceitem mutuamente e se respeitem na sua individualidade específica.
(...) Em suma, trata-se de uma teoria
pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a
aprender.
Pedagogia Tecnicista
A partir do pressuposto da neutralidade
científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade, essa pedagogia advoga a reordenação do processo educativo de
maneira a torná-lo objetivo e operacional.
TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS
Teoria Do Sistema De Ensino Enquanto
Violência Simbólica
A função da educação é a de reprodução
das desigualdades sociais. Pela reprodução cultural, ela contribui
especificamente para a reprodução social. (...) Toda tentativa de utilizá-la
como instrumento de superação da marginalidade não é apenas uma ilusão. É a
forma através da qual ela dissimula, e por isso cumpre eficazmente, a sua função
de marginalização.
Teoria Da Escola Enquanto Aparelho
Ideológico De Estado (AIE)
O AIE escolar, em lugar de instrumento
de equalização social constitui um mecanismo construído pela burguesia para
garantir e perpetuar seus interesses.
Teoria Da Escola Dualista
Essa teoria foi elaborada por C.
Baudelot e R. Establet e exposta no livo L’école capitaliste en
France (1971). Chamo de "teoria da escola dualista" porque os autores
se empenham em mostrar que a escola, em que pese a aparência unitária e
unificadora, é uma escola dividida em duas (e não mais do que duas)
grandes redes, as quais correspondem à divisão da sociedade
capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado.
Resumo aulas 9 e 10 – Dinâmica e
Organização Escolar
A ESCOLA DE HOJE, MATERIAL E VIRTUAL: A
ESCOLA QUE ESTÁ SENDO CONSTRUÍDA
ATRAVÉS DA EAD
A LDBen 9394/96 foi a primeira lei de
ensino brasileira a citar, nominalmente, a função educacional da EAD. Vejamos o
que consta no artigo 80 dessa lei:
Art. 80. O Poder Público incentivará o
desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
§ 1º A educação a distância, organizada
com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições
especificamente credenciadas pela União.
§ 2º A União regulamentará os
requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos
de educação a distância.
§ 3º As normas para produção, controle
e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua
implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver
cooperação e integração entre os diferentes sistemas.
§ 4º A educação a distância gozará de
tratamento diferenciado, que incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em
canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens;
II - concessão de canais com
finalidades exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus
para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.
Hoje, a EAD é reconhecidamente, uma
modalidade tão importante e respeitada quanto a presencial, uma alternativa
equivalente, quando desenvolvida de forma consistente, zelando pela qualidade
do ensino, da metodologia empregada e dos resultados.
Estudar a distância constitui uma
alternativa muito interessante para quem trabalha, já que evita o afastamento
do trabalho e deslocamentos, às vezes bastante longos, até o local de estudos.
Otimiza o tempo e os esforços, tanto de alunos quanto de professores.
Outra característica importante da EAD
é que alguns aspectos valorizados pelas teorias sociointeracionistas
contemporâneas para a construção de conhecimentos pelos alunos estão presentes
e constituem, mesmo, fatores indispensáveis ao sucesso nos estudos nessa
modalidade. A autonomia para estudar, a disciplina para a organização de
agendas de estudo, a habilidade de leitura, de pesquisa e de elaboração de
estratégias de estudo que se desenvolvem nos alunos são constituintes
indispensáveis para “aprender a aprender”. Assim, além dos conteúdos
específicos, os estudantes, em especial os professores, desenvolverão
habilidades e competências que deverão ajudar seus próprios alunos a
desenvolver.
O amadurecimento da EAD, que hoje pode
lançar mão das TIC e criar percursos de estudo com alto nível de interação
entre professores, alunos e comunidades de produção e disseminação de
informação e conhecimento, nos leva a pensar que uma nova escola está nascendo.
Nela, atividades presenciais e a distância poderão ocorrer, de acordo com as
necessidades, especificidades dos conteúdos de estudo, as condições geográficas
e de deslocamento, as características e as possibilidades dos estudantes dos
educadores e instituições de ensino..
Um dos programas de maior
crescimento e potencial de interferir positivamente na qualidade do trabalho
docente é a Universidade Aberta do Brasil – a UAB. É um movimento iniciado em
2005 que vem crescendo e se consolidando, amadurecendo a idéia de interiorizar
e democratizar o acesso ao Ensino Superior de qualidade no Brasil.
Resumo aulas 11 e 12 – Dinâmica e
Organização Escolar
BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: A HISTÓRIA
DA ESCOLA – 1ª parte
Podemos, de uma forma sintética, tomar
como ponto de partida a concepção de que a função principal da escola é ser a
responsável pela formação dos novos membros de uma sociedade. Seria, então, a
agência privilegiada de disseminação de informações relevantes para a vida em
comum, dos valores e das práticas socialmente relevantes, tanto para a
sociedade quanto para o próprio indivíduo. Seria ainda uma continuação da
formação familiar visando a preparar os indivíduos para assumir seus papéis na
sociedade à qual se integram.
O desenho de uma sala de aula chamada
tradicional, por exemplo, é propício para a formação de operários acostumados a
um sistema hierárquico de comando, ao cumprimento de ordens, atendimento a
comandos sonoros e ao trabalho repetitivo, silencioso e ordeiro. Essas seriam
competências necessárias, sobretudo, para a formação de mão-de-obra para as
manufaturas e, posteriormente, para a indústria, em geral.
A classificação, promoção ou eliminação
de alunos do sistema reproduziria, na escola, os mecanismos que sublinham e
justificam as próprias diferenças sociais. Ao longo do tempo, a idéia de uma
escola para todos têm sofrido interpretações e adequações relativas à própria
idéia de igualdade.
História da Escola Pública no Mundo
SECULO XVI - Influências dos ideais
humanistas do Renascimento.
· Reforma
Religiosa - Martinho Lutero prega a educação para todos poderem ter acesso ao
conteúdo da Bíblia.
· 1524
- Lutero escreve e distribui a "Carta aos regedores de todas as cidades
alemãs para que estabeleçam e mantenham escolas cristãs".
SECULO XVII - Evolução das ideias
pedagógicas
· 1619
- 1° Estatuto Escolar - Ducado de Weimar.
· 1642
- Criada a 1ª regulamentação do ensino público, no Ducado de Gota (Alemanha).
· 1642
- 1ª Lei escolar norte–americana.
SECULO XVIII - Século das Luzes
· 1717
- Frederico Guilherme I fala pela 1ª vez do princípio da obrigatoriedade
· 1763
- La Chatolais
publica "Ensaio da Educação Nacional", onde fala sobre a laicidade da
escola, e do objetivo de formar cidadão úteis.
· 1789
– Revolução Francesa - Igualdade, Liberdade, Fraternidade
· Declaração
Universal dos Direitos do Homem - Educação do Cidadão para si mesmo e para a
pátria.
· A
educação passa a ser vista como um direito
· Abril
de 1792 - Condorcet apresenta à assembléia da França pósrevolução seu
"Relatório e projeto de decreto". Alguns pontos principais:
* Universalização do ensino
* Ensino gratuito em todos os graus
* Escola laica
* Conteúdo independente de forças
políticas e poder estatal
SECULO XIX - Revolução industrial
Século onde se estabelece os grandes
sistemas nacionais de educação nos países europeus e americanos.
· 1833
Lei de Guizot - base da organização escolar francesa.
· 1850
- Estabelecida a escola pública primária nos EUA.
· 1860
- Implantação dos "Jardins de Infância" na Alemanha.
· 1870
- Lei proposta pelo ministro Forster (Inglaterra) - Base da educação primária
inglesa. Respeita e subvenciona as escolas particulares existentes e cria
públicas onde não houver.
· 28
de março de 1882 - lei escolar de Jules Ferry (França) estabelece de fato a
obrigatoriedade escolar e a laicidade no ensino público primário.
SECULO XX
· 1948
- A Assembleia Geral das Nações Unidas publica a "Declaração Universal dos
Direitos Humanos".
Diz o artigo 26:
Toda pessoa tem direito à instrução. A
instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A
instrução elementar será obrigatória. A instrução técnicoprofissional será
acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
A instrução será orientada no sentido
do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do
respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em
prol da manutenção da paz.
Os pais têm prioridade
de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Resumo aulas 13 e 14 - Dinâmica e Org.
Escolar
2- BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: A
HISTÓRIA DA ESCOLA – 2ª parte: BRASIL
Embora a educação no Brasil tenha se
feito presente desde o início da colonização, a partir da ação de
Franciscanos e Jesuítas, caracterizando-se como ensino religioso,
só no século XIX registra-se o surgimento da escola pública.
O fenômeno da escolarização em massa,
configurado a partir da segunda metade do século XIX, apresentou muitos
aspectos comuns de abrangência global, entre eles: a obrigação escolar, a
responsabilidade estatal pelo ensino público, a secularização do ensino e
da moral, a nação e a pátria como princípios norteadores da cultura
escolar, a educação popular concebida como um projeto de consolidação de uma
nova ordem social (PEREIRA et alli. Site).
ALGUNS MARCOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
NO BRASIL SECULOS XVI, XVII e XVIII
• Educação Jesuítica 1549 a 1759
• Em 1759, expulsão dos Jesuítas pelo
Marquês de Pombal, que cria as aulas régias de Latim, Grego e Retórica,
autônomas e desarticuladas, e a Diretoria de Estudos, cujo
funcionamento foi posterior ao afastamento de Pombal. Desmontou-se o
sistema jesuítico e nada o substituiu.
SECULO XIX
• Em 1808, com a vinda da Família Real,
foram criadas Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, mas a
educação permaneceu como tema de menor importância.
• Em 1824, na primeira
Constituição brasileira, o Art. 179, a afirmação de que a "instrução
primária é gratuita para todos os cidadãos".
• Em 1826, foram instituídos, por
decreto, quatro graus de instrução, a saber: Pedagogias (escolas
primárias), Liceus, Ginásios e Academias.
• Em 1834 as províncias passaram a ser
responsáveis pela administração do ensino primário e secundário.
• Em 1835, surge a primeira Escola
Normal do país, em Niterói.
• Em 1837 foi criado o Colégio Pedro
II.
SECULO XX
• Várias reformas educacionais de
âmbito estadual: no Ceará, a de Lourenço Filho (1923), na Bahia, a de
Anísio Teixeira (1925), em Minas, a de Francisco Campos e Mario
Casassanta, (1927), no Distrito Federal (Rio de Janeiro), a de Fernando
de Azevedo (1928) e em Pernambuco, a de Carneiro Leão (1928).
• Em 1934, criação da Primeira
Universidade de São Paulo (SP).
• Em 1935 Anísio Teixeira cria a
Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro (RJ).
• Em 1942, criação do SENAI (Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial ).
• Em 1946, criação do SENAC
(Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).
• Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961.
• Lei 5692, de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, em 1971, tendo como característica principal
a formação educacional de caráter profissionalizante.
• Lei 9394 de dezembro de 1996, que
se refere, pela primeira vez, à modalidade de educação à distância.
• (BELLO, 2001)
Resumo aulas 15 e 16 – Dinâmica e
Organização Escolar
CONSTITUIÇÕES, LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E
A ESCOLA: Organização E Ritos Da Escola – Como A Sociedade E Escola Se
Organizam e Estabelecem Seus Ritos
A preocupação com o acesso a uma escola
de qualidade variou ao longo do tempo, como também variaram os próprios
conceitos de acesso e qualidade tiveram conotações distintas. Os
conceitos de obrigatoriedade e gratuidade variaram desde o início de nossa
história. A possibilidade de uma escola laica foi, também, resultado de
um embate entre tendências religiosas e de separação entre
educação e ensino religioso .
1824 - A primeira Constituição do Brasil
voltada para as questões sociais, foi a mais Ø duradoura. Em Lei 15 de
outubro de 1827 o Imperador D. Pedro determina que “ Em todas as cidades,
vilas e lugares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que
forem necessárias.” Art. 1º
1891 - Aprovação da primeira
Constituição Republicana- Nela, a questão da EducaçãoØ aparece restrita a cada
estado da federação e o tema principal seria o da autonomia de cada
unidade. Apenas a formação militar e o ensino superior seriam questões do
âmbito federal.
1934 - Aprovação de nova Constituição com um
capítulo dedicado às responsabilidØades de estados e da União
referentes à Educação. Caberia então, à União a definição de
diretrizes
da educação nacional (ver art. 5º) e de
um plano nacional de educação que permitisse
coordenar e fiscalizar o ensino de todos os
graus e ramos em todo o território do país (ver art. 150) sem
abalar a autonomia dos estados. Assim seria ainda garantida a obrigatoriedade
da escolaridade primária.
1937 - Promulgação, pelo Estado Novo, de uma
nova Constituição que atribuía à União a o Ø estabelecimento das bases e da
normatização da educação em todo o território brasileiro e
destituía o plano nacional da educação.
1946 - Fim do Estado Novo, elaboração de uma
nova Constituição e retomada das idéias Ø educacionais da Constituição de
1934. Encaminhamento das discussões rumo à primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
1961 - Aprovação da primeira Lei de Diretrizes
e bases da educação nacional. foi aprovadaØ em. Dez anos LDB depois ela foi
substituída por uma nova versão, a LDB 9672 de 1971.
1988 - Promulgação de nova constituição. Após
8 anos, em 1996, foi sancionada a LDBØ vigente até hoje no país. A
Constituição Federal de 1988 tem sido considerada a mais democrática do
Brasil, sobretudo pela participação popular. Mais de 12 milhões de brasileiros
tiveram algum tipo de colaboração na formulação de122 emendas populares.
Resumo aulas 17 e 18 - Dinâmica e
Organização Escolar
O QUE E COMO SE APRENDE NA
ESCOLA? O DIÁLOGO ENTRE COMUNIDADE E ESCOLA
O ingresso das classes com menor acesso
à renda e ao conhecimento socialmente valorizado vem exigindo da escola
um movimento diferente no tratamento dos conteúdos usualmente denominados
humanidades.
Comenius, o chamado “pai da Didática”,
apresentou a proposta de ensinar “de tudo a todos”. Embora bastante
ambiciosa, chamava a atenção para um aspecto da maior importância: o método.
Uma maneira especial de tratar o conteúdo da aprendizagem e o próprio
aprendia faz toda a diferença, realmente, no processo de ensinar e de
aprender.
A família tem seus códigos,
valores e saberes. Eles devem entrar na escola não como objetivos em si,
com nos assinala Saviani. Entrar na escola para aprender o que já se sabe
transforma-se em falácia, em um ritual perverso, porque aumenta na mesma
medida, a expectativa dos mais pobres e o fosso social entre aqueles com
trânsito natural pelo saber socialmente valorizado e aqueles que contam
basicamente com a escola para superar tal barreira viver plenamente sua
condição de cidadão.
No Brasil, tem havido uma tendência,
apoiada em políticas públicas, de aumentar o envolvimento familiar
na escola. Apesar dessas iniciativas, cuidados devem ser tomados para que
cada instância cumpra seu legítimo papel no processo de
escolarização.
Para fazer a transposição do
conhecimento do conteúdo específico para a sala de aula, conhecer os
alunos é fundamental, posto que as suas aprendizagens dependem de
experiências prévias, de sua relação com o saber e do contexto em que
vivem.
A articulação entre os diversos
segmentos que compõem a escola, a discussão sobre a formação de
licenciados, a criação de espaços e mecanismos de participação e exercício
democrático das relações de poder colocam-se como prerrogativas
fundamentais para a problematização da escola que temos e para a
sinalização da escola que queremos.
Resumo aulas 19 e 20 – Dinâmica e
Organização Escolar
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
(PCN): AS BASES DA EDUCAÇÃO QUE SE FAZ NA ESCOLA
A escola ainda ocupa papel central na
democratização do acesso a esses bens, em especial, à língua falada e
escrita, ao raciocínio matemático e à compreensão da linguagem e do saber
científico. Definir parâmetros educacionais significa oferecer elementos
norteadores para a educação que precisa se diversificar para atender às
múltiplas realidades de nosso país, sem perder o foco do acesso ao conhecimento
estruturado e socialmente valorizado.
Realizar uma leitura dos textos
introdutórios aos PCN propriamente ditos é de grande importância para que
possamos, nós mesmos, formar nosso julgamento a respeito da pertinência dos
mesmos. É o que propomos a partir de agora, acrescentando um texto para
uma breve leitura de alguns destaques dos PCN.
Nesse sentido, o propósito do
Ministério da Educação e do Desporto, ao consolidar os
Parâmetros, é apontar metas de
qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão
participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e
deveres. (PCN, 1997)
Resumo aulas 21 e 22 – Dinâmica e
Organização Escolar
MATERIAIS, RECURSOS, REPOSITÓRIOS E
PROGRAMAS VOLTADOS À QUALIDADE DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM
Há mais de uma década, no sentido de
prover escolas públicas de laboratórios de informática e de acesso à
Internet. Mesmo em escolas sem acesso à Internet, os computadores
fornecidos aos laboratórios podem chegar à escola com conteúdos digitais em
seus discos rígidos ou em mídias digitais, como cd-rom, DVD ou outras
unidades de armazenamento removíveis.
Mas isso não basta: o professor precisa
conhecê-los e utilizá-los em suas atividades. A apropriação das tecnologias de
informação e comunicação, as TIC, se insere duplamente nesse
repertório. Primeiro, como parte da
própria bagagem cultural de nosso tempo e ainda como instrumento
potencialmente importante para acesso, construção e disseminação do
conhecimento. Essa característica de constituir instrumental da própria
aprendizagem imprime às TIC um interesse especial. Com as TIC,
professores e alunos podem, em conjunto, pesquisar, produzir, armazenar e
disseminar os produtos de suas aprendizagens coletivas e individuais.
Utilizando tecnologias digitais têm sido criados, no mundo todo, além de
espaços de publicação e de comunicação em várias áreas do conhecimento,
inúmeros espaços para acesso aos chamados “objetos educacionais”.
Podemos definir como objetos de
aprendizagem textos, arquivos de áudio e vídeo, jogos, enfim, todo
material em diferentes mídias que possam ser utilizados com objetivo
educacional. O professor pode construir com seus alunos hipermídias
(produções de conteúdo que utilizam múltiplas linguagens e mídias)
contextualizadas que combinam recursos e constituem novas possibilidades de
aproximação do conhecimento.
Repositórios são, por sua vez, coleções
desses objetos, disponibilizados a professores e alunos. A partir desses
objetos pode-se, inclusive, criar objetos e apresentações mais complexas.
Resumo aulas 23 e 24 – Dinâmica e
Organização Escolar
EDUCAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL: VISÃO
GERAL
Um sistema pode ser constituído
de múltiplos subsistemas. Essa situação ilustra bem o conceito de sistema que
se costuma utilizar.
A característica principal de um
sistema é exatamente a articulação de processos, instrumentos e
procedimentos para que uma função específica seja exercida adequadamente.
Falando de uma forma mais estruturada,
um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos que se
interrelacionam e interagem para desempenhar uma determinada função. Esses
processos, inclusive, referenciam classificações de sistemas como, por exemplo,
em fechados (aqueles em que os processos têm início e fim internamente ao
sistema, como alguns circuitos fechados), abertos (nos quais processos internos
e externos ao sistema se interconectam, como sistema financeiro),
naturais (sistemas que identificamos no organismo, na natureza, como
sistema digestivo), artificiais (os que são fruto da engenhosidade
humana, como a internet).
Podemos observar um sistema de forma
mais geral ou particular, com foco em uma ou mais funções, segundo nosso
interesse. Os sistemas, ou ainda, as relações sistêmicas são o foco de
estudos da teoria geral de sistemas.
Nos primeiros trabalhos publicados pelo
biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, entre 1950 e 1968, estão as
primeiras referências à teoria geral de sistemas. Ela surge como uma proposta
de compreensão para a interseção entre ciências exatas, humanas e
sociais. Possibilita o estudos de fenômenos que, apesar de integrados
pertencem a universos e realidades complexas e particulares.
Fazem parte do sistema
educacional brasileiro escolas, alunos, professores e profissionais de
gestão, administração e apoio educacional. A vida escolar, a formação e
as atribuições dos que atuam na escola é regulada por leis e
determinações técnico-
pedagógicas, está estruturada em níveis
educacionais e se conecta a outros sistemas voltados à cultura, à saúde e
à alimentação.
Se analisarmos sob o ponto de vista do
alcance , verificamos que o sistema educacional brasileiro é organizado
em níveis de ensino. Nele, o ensino fundamental e o ensino médio
constituem a Educação Básica, e o Ensino Superior é constituído por
Graduação e Pós-Graduação.
Se o analisarmos do ponto de vista das
redes de ensino público, constatamos a existência de redes municipais,
estaduais e federal de educação, que envolvem sistemas de ensino, políticas
específicas, legislação própria, procedimentos normalizados, escolas,
profissionais e infraestrurura.
Para compreender melhor como o sistema
educacional brasileiro é organizado, leia o texto na íntegra. Atente para
um diagrama apresentado logo no início do capítulo, através dele será
possível uma ideia geral e rápida sobre as modalidades e níveis da educação
no Brasil.
Porém, este texto ainda apresenta o
Ensino Fundamental de 8 anos. Atualmente essa etapa foi acrescida de mais
um ano, com a inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fundamental.
Em 6 de fevereiro de 2006, a Lei no
11.274,institui o ensino fundamental de nove anos de duração com a
inclusão das crianças de seis anos de idade.
Com a aprovação da Lei no 11.274/2006,
ocorrerá a inclusão de um número maior de crianças no sistema
educacional brasileiro, especialmente aquelas pertencentes aos setores
populares, uma vez que as crianças de seis anos de idade das classes média
e alta já se encontram, majoritariamente incorporadas ao sistema de
ensino – na pré-escola ou na primeira série do ensino fundamental.(...)
A implantação de uma política de ampliação
do ensino fundamental de oito para nove anos de duração exige tratamento
político, administrativo e pedagógico, uma vez que o objetivo de um
maior número de anos no ensino obrigatório é assegurar a todas as
crianças um tempo mais longo de convívio escolar com maiores
oportunidades de aprendizagem.
Ressalte-se que a aprendizagem não
depende apenas do aumento do tempo de permanência na escola, mas também
do emprego mais eficaz desse tempo: a associação de ambos pode contribuir
significativamente para que os estudantes aprendam mais e de maneira mais
prazerosa.
Para a legitimidade e a efetividade
dessa política educacional, são necessárias ações formativas da
opinião pública, condições pedagógicas, administrativas,
financeiras, materiais e de recursos humanos, bem como acompanhamento e
avaliação em todos os níveis da gestão educacional. (MEC, 2007)
Se quiser saber mais sobre a
implementação do ensino fundamental de nove anos, poderá consultar o
documento: Ensino Fundamental De Nove Anos Orientações Para A Inclusão Da
Criança De Seis Anos De Idade, disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf
Resumo aulas 25 e 26 – Dinâmica e
Organização Escolar
EDUCAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL:
SISTEMAS DE AVALIAÇÃO
Em geral, o processo de avaliação
consiste na articulação de diferentes mecanismos para a constatação dos
resultados alcançados em um determinado ponto de um processo, tendo como
referencial objetivos previamente estabelecidos. Luckesi nos alerta para
o risco de desvio de entendimento do complexo processo para os exames que dele
fazem parte. De todo modo, avaliar pressupõe, em certo nível, algum
critério de mensuração de resultados.
Para este estudo, podemos tomar como
ponto de partida o entendimento de avaliação a partir de quatro grandes
funções definidas por Natriello (1987):
1. Certificação (que indica o nível
alcançado pelo aluno no sistema),
2. Selecção (que avaliza a entrada de
alunos em um determinado ponto do sistema)
3. Orientação (que, a partir do
conhecimento dos resultados, permite a orientação dos alunos no sistema)
4. Motivação (que possibilita aos
próprios alunos, a partir da consciência dos resultados, o direcionamento
dos esforços educativos).
O Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP – é o órgão do Ministério da
Educação dedicado à pesquisa em educação e tem como objetivo fornecer
subsídios à formulação de políticas públicas na área educacional.
Programas de avaliação como o ENEM, o ENADE, o Censo Educacional nos
diferentes níveis de ensino como a Prova Brasil e a avaliação
institucional são algumas das ações do INEP voltadas à pesquisa e à
avaliação da educação brasileira.
O INEP é responsável pela
publicação de estudos e análises dos resultados de pesquisas na área, bem
como de conteúdo educacional qualificado como teses, dissertações e
ensaios técnicos.
• Censo Escolar :
levantamento de informações estatístico-educacionais de âmbito nacional,
realizado anualmente;
• Censo Superior : coleta,
anualmente, uma série de dados do ensino superior no País, incluindo cursos de
graduação, presenciais e à distância.
• Avaliação dos Cursos de
Graduação : é um procedimento utilizado pelo MEC para o
reconhecimento ou renovação de reconhecimento dos cursos de graduação
representando uma medida necessária para a emissão de diplomas.
• Avaliação Institucional :
compreende a análise dos dados e informações prestados pelas Instituições de
Ensino Superior (IES) no Formulário Eletrônico e a verificação, in loco,
da realidade institucional, dos seus cursos de graduação e de
pós-graduação, da pesquisa e da extensão.
• Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior : Criado pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de
2004, o
Sinaes é o novo instrumento de
avaliação superior do MEC/Inep. Ele é formado por três componentes
principais: a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos
estudantes.
• Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) : exame de saída facultativo aos que já concluíram e aos
concluintes do ensino médio, aplicado pela primeira vez em 1997.
• Exame Nacional Para Certificação de
Competências (Encceja) : é uma proposta do Ministério da Educação
de construir uma referência de avaliação nacional para jovens e adultos que
não puderam concluir os estudos na idade própria.
• Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) : pesquisa por amostragem, do ensino
fundamental e médio, realizada a cada dois anos. (INEP)
Dê especial atenção aos exames ENEM,
ENADE, SAEB, Prova e Provinha Brasil.
O Exame
Nacional do Ensino Médio(Enem) é uma prova criada em 1998pelo Ministério da Educação do Brasil que é utilizada como ferramenta para
avaliar a qualidade geral do ensino médiono
país. Posteriormente, o exame começou a ser utilizado como exame de acesso ao ensino
superior em universidades públicas brasileiras através do SiSU (Sistema de Seleção Unificada). O Enem é o
maior exame do Brasil, que conta com mais de 4,5 milhões de inscritos divididos
em 1.698 cidades do país.[1]
A prova também é feita por pessoas com
interesse em ganhar bolsas integrais ou parciais em universidades particulares através do ProUni (Programa Universidade para Todos).
A partir de 2009, o exame serve também
como certificação de conclusão do ensino médio em cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), antigo supletivo, substituindo
o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
O Exame
Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade)
é uma prova escrita, aplicada anualmente, usada para avaliação dos cursos de ensino
superior brasileiros. A
aplicação da prova é de responsabilidade do INEP,
uma entidade federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC).
Participam desta avaliação os alunos
ingressantes e concluintes no ensino superior. O aluno que deixa de participar
do Enade é impedido de concluir o curso, não recebendo seu diploma.
O Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) é um
conjunto de sistemas de avaliação do ensino brasileiro,
desenvolvido e gerenciado pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, autarquia do Ministério da Educação (MEC).
O SAEB é realizado de dois em dois anos
por amostragem de alunos. Esse sistema, também
conhecido por Avaliação
Nacional da Educação Básica (Aneb),
produz informações a respeito da realidade educacional por regiões brasileiras.
A Prova
Brasil criada, em 2005, pelo Ministério da Educação, é uma avaliação
complementar ao Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e
um dos componentes para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica(Ideb). Ela é realizada a cada dois anos e participam todos os
estudantes de escolas públicas urbanas do 5° e do 9º ano de turmas com mais de
20 alunos. A avaliação é dividida em duas provas: Língua Portuguesa, onde é medida a capacidade
de leitura, interpretação de textos e de fixação da mensagem. E a Prova de Matemática onde é avaliado o raciocínio em
contexto com a realidade do aluno.[1]
Após a realização do exame, o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela sua
aplicação, envia um boletim de desempenho individual e materiais com
informações adicionais para todas as escolas participantes.
Provinha Brasil é um instrumento de avaliação da
alfabetização concebido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC),
e disponibilizado para uso das secretarias estaduais e municipais de educação
em suas redes.
O objetivo é oferecer
aos gestores públicos e aos professores de suas redes informações sobre o nível
de alfabetização dos alunos, ainda no início do processo de aprendizagem,
permitindo assim intervenções com vista à correção de possíveis insuficiências
apresentadas nas áreas de leitura e escrita.
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3 - EDUCAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
Efeito estufa
Principal responsável - Os gases de estufa (dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), Óxido nitroso (N2O),CFC´s (CFxClx) absorvem alguma radiação infravermelha emitida pela
superfície da Terra e radiam por sua vez alguma da energia absorvida de volta
para a superfície.
Consequências - Como consequência disso, o calor
fica retido, não sendo libertado para o espaço. A superfície recebe quase o dobro de energia da atmosfera
do que a que recebe do Sol e a superfície
fica cerca de 30 °C
mais quente do que estaria sem a presença dos gases «de estufa».
Depleção da camada de
Ozônio
Principal responsável - CFCs e outras substâncias contribuidoras são
comumente referidas comosubstâncias depletoras de ozônio (ODS).
Consequências - Suspeita-se
que uma variedade de efeitos biológicos, tais como o aumento da câncer de pele, cataratas, danos às plantas, e redução
da população de plâncton no oceano na zona fótica podem resultar da maior exposição a UV que
aumentou devido à depleção do ozônio.
Desertificação
Principal responsável - Degradação da terra nas regiões áridas,
semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as
variações climáticas e as atividades humanas".
Consequências - O solo de determinados lugares começa a
ficar cada vez mais estéril. Há também erosão
genética da fauna e flora,
extinção de espécies e proliferação eventual de espécies exóticas.
Biopirataria
Principal responsável – Indivíduos que comercializam, sem
autorização, informações de um grupo de indivíduos acumuladas por anos, e
que portanto, são bens coletivos; e material
biológico como qualquer objeto de mercado.
Consequências - Causa risco
de extinção a inúmeras espécies da fauna e da flora, com o contrabando das mesmas - retirando-as de seu habitatnatural.
Principais reuniões Internacionais em
benefício à causa do meio ambiente:
Clube de Roma – Ocorrida em Roma, Itália em 1968 com
a participação de “30 notáveis”. O relatório da reunião concluiu que para a
sobrevivência no planeta, o homem teria que mudar a forma de exploração dos
recursos, buscando maior racionalidade e planejando em longo prazo.
Assembléia das Nações Unidas para o
Meio Ambiente – Ocorrida em Estocolmo, na Suécia, em
1972 com a participação de 113 países. Foram discutidos os principais problemas
ambientais mundiais e as obrigações de indivíduos e Estados para com o Planeta.
1ª reunião da Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD/Assembléia Geral das Nações Unidas) – Ocorrida na Noruega em 1983. Nessa
reunião houve a constatação que a população humana consome, atualmente, 20% dos
recursos além da capacidade de reposição dos sistemas naturais e que, portanto,
os padrões atuais de produção e consumo necessitariam ser mudados.
2ª reunião da Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD/Assembléia Geral das Nações Unidas) ou
Cúpula da Terra – Ocorrida no Rio de Janeiro, Brasil,
em 1992. Foi o maior evento até então realizado sobre temas ambientais. Foram
estabelecidos 5 acordos: a Agenda 21, é o mais importante dos 5 acordos e
propõe metas gerais mundiais para atingir a sustentabilidade no século 21,
tendo sido aprovada e assinada por 172 países.
Convenção das Nações
Unidas sobre o Clima ou Convenção de Kyoto – Ocorrida no Japão em 1997. Derivou da
Convenção sobre Mudanças Climáticas, ocorrida durante a Rio 92. O documento
gerado dessa reunião ficou conhecido como Protocolo de Kyoto, que estabelece
metas de redução para emissão de gases causadores de mudanças climáticas e
outros efeitos globais.
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4 _ ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
4 _ ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
Resumo aula 9 - O adolescente e as questões da
sexualidade – Francisco R. de Farias
Do ponto de vista histórico, a questão da sexualidade era
praticamente desvinculada da temática referente ao amor. A prática sexual
somente poderia acontecer mediante um acontecimento social: o casamento,
salvo as exceções relacionadas às práticas das casas de luxúria,
prostíbulos, além das conhecidas casas dos prazeres.
O cenário do mundo contemporâneo é completamente
diferente do mundo antigo. Assiste-se a uma grande mudança: os pais, que
tinham a função de controlar a vida sexual dos filhos, interditando o
acesso às práticas sexuais, atualmente assumem a função de orientadores
sobre a sexualidade e os riscos que podem decorrer de práticas sexuais
sem uma devida reflexão e ponderação.
UM POUCO DE HISTÓRIA: ACONTECEU NA GRÉCIA
Quando estamos no âmbito da experiência amorosa, temos de
entendê-la em termos de reciprocidade. Algo que somente é possível na
esfera das relações mediadas pelos arranjos subjetivos, ou seja, aquilo
que somente ocorre no âmbito das experiências dos seres falantes. Então,
que nome daremos ao sentimento que temos pelos animais, plantas e natureza?
Poderíamos falar de afeição, mas não de amor. Explicando melhor: a
experiência amorosa, fundamental à vida, tem certas
características que somente podem ser compreendidas na condição humana.
Os gregos distinguiam quatro espécies de situações
amorosas, ou quatro tipos de philia: a) physikè, que era o tipo de amor
estabelecido entre quem têm vínculos de consanguinidade; b) hétairikè, que era
o amor entre amigos, ou seja, os vínculos de amizade; c) erotikè, que era o
relacionamento revestido de sexualidade entre pessoas de mesmo sexo ou de sexo
diferente; d) xénikè, que era o amor entre anfitrião e hóspede. A respeito
dessa quarta modalidade de experiência amorosa, certas tradições são bastante
curiosas, como temos notícias das práticas realizadas por procusto, de quem se
popularizou a expressão “leito de Procusto”.
As diferentes modalidades de vínculos amorosos que, para
os gregos, eram de quatro tipos: o amor entre amigos, o amor da hospitalidade,
o amor relativo ao vínculo consanguíneo e o amor para fins genitais.
Se, na atualidade, os adolescentes diferenciam três
possibilidades na vida erótica –“ficar”, namorar e ter relações
sexuais –, devemos refletir qual o sentido da sexualidade para os jovens,
principalmente em termos das informações que circulam. Também deve ser
considerada a possibilidade de discussão dessas questões no âmbito das relações
entre pais e filhos.
A diferença entre o sexo e o amor, estabelecida pelos
gregos, era representada por tipos de relações que incluíam a amizade, os
vínculos de consanguinidade e relações genitais. Essas últimas eram
consideradas relações amorosas no campo das práticas sexuais, enquanto que as
demais eram somente relações estabelecidas por vínculos amorosos, tanto a
amizade quanto a afeição, como a hospitalidade.
Na atualidade, os adolescentes estabeleceram termos
próprios para indicar quando as relações estabelecidas são de uma natureza mais
superficial, ou seja, são experiências passageiras e de descobertas, agrupadas
no termo “ficar” (que não significa maiores
compromissos), e as relações amorosas propriamente ditas
(que podem ou não incluir práticas sexuais).
Na infância, como também na adolescência, os pais devem
encarar as perguntas como fruto da curiosidade do ser humano que se encontra em
desenvolvimento psicológico. Assim, é importante que os pais considerem a
sexualidade como algo natural, da mesma forma que consideram naturais as demais
funções vitais como alimentação, sono, respiração, entre outras. Por
isso, nada melhor do que o diálogo de forma franca, e ninguém melhor que os
pais para estabelecer as questões dos seus filhos.
Delegar a outras pessoas a responsabilidade de informar
os filhos sobre sexualidade não é uma boa recomendação, mesmo que se trate de
professores ou outros profissionais que conheçam o assunto do ponto de vista
científico. Isso quer dizer que, dificilmente, existirá alguém que substitua os
pais nessa tarefa. A essa altura, temos de fazer uma advertência: a inocência
da criança e do adolescente jamais deve ser considerada como ignorância, e sim
como pureza de conhecimento.
A masturbação é uma das primeiras expressões da
sexualidade no sentido da obtenção de prazer. Porém devemos advertir que tanto
a proibição quanto a excessiva permissividade causam os mesmos problemas, uma
vez ambas as atitudes dos pais não são indicadoras de limites para os filhos.
Os pais devem conversar com seus filhos sobre sexo e
reprodução, pois se não tomarem a frente dessa tarefa, alguém o fará, e nem
sempre de forma adequada. Os pais devem encarar a sexualidade como parte do
desenvolvimento do filho, ... devem impor alguns limites aceitáveis a seus
filhos adolescentes, como, por exemplo, sugerir que o filho ou a filha devam
atingir uma certa idade, que já tenham uma certa autonomia e que tenham uma
noção das repercussões de suas ações em relação aos estudos e ao preparo para a
vida profissional.
O ADOLESCENTE E AS PRÁTICAS SEXUAIS
É comum uma criança explorar, pela manipulação, o corpo
de outra e nisso não há nada de anormal. Mas os agentes de socialização não
devem aprová-los, e sim explicar a criança, sem dar a dimensão de algo errado
ou impróprio, que o corpo tem zonas íntimas e que não podem ser tocadas por
qualquer pessoa. Eis como se apresenta o sentido de privação da prática sexual.
Mas qual seria a atitude dos adultos ao saberem que tais
jogos são praticados por seus filhos adolescentes? A postura a ser adotada em
uma situação como essa deve ser, da parte dos pais, proibir tais jogos para,
desse modo, preservar a intimidade de seu filho e, obviamente, interditar a
prática da sexualidade no contexto da família, pois na maioria das vezes esses
jogos são praticados entre primos.
E o que fazer quanto à masturbação?
Em primeiro lugar, os pais devem se desvencilhar de todas
as crendices relacionadas à masturbação, ou seja, devem considerá-la como uma
atividade sexual normal da vida do jovem, mas que pertence ao domínio de sua
intimidade. Em outras palavras: a masturbação não deve ser assunto de
ostentação – nem de orgulho ou de vergonha para
pais – seja no âmbito da família ou em qualquer lugar.
Os pais não devem se obrigar a tomar decisões com as
quais não concordam. Porém, isso não significa que não devam refletir sobre as
questões sexuais da vida de seus filhos.A pior atitude seria fazer de conta que
nada sabem, pois isso seria muito prejudicial para os filhos, por ser uma forma
de permissividade escamoteada. Fingir que nada sabem não deve ser uma postura
adotada pelos agentes de socialização, principalmente os pais.
A homossexualidade masculina, segundo o pensamento de
Sigmund Freud, parece ser o resultado da forte identificação do menino a uma
mãe deprimida, que a criança tentaria consolar ante a possibilidade de um pai
distante ou muito desvalorizado. Uma vez identificado à mãe, o menino estaria
impedido de ter acesso à diferença sexual. Quanto à homossexualidade feminina,
poderia ser o resultado de um relacionamento extremamente sedutor entre a
menina e o pai, sendo a mãe desvalorizada e retraída. A menina apegada pela
forte sedução ao pai não conseguiria desligar-se dele para retornar à mãe e
apreender o que é ser uma mulher. Mas estamos apenas apresentando uma
explicação, que deve ser objeto de reflexão e não uma verdade definitiva.
A orientação pela homossexualidade aparece muito cedo em
alguns jovens, marcadamente por devaneios e não propriamente em atos sexuais.
Porém a determinação final dessa orientação conta com as influências exercidas
pela convivência do jovem, especialmente no âmbito das amizades. Mas é preciso
advertir que não se deve confundir uma orientação “homófila” com orientação
homossexual. Muitos jovens
sentem atração por pessoas do mesmo sexo, porém isso não
quer dizer necessariamente que desejem manter relacionamentos sexuais e sim
buscam nesses vínculos reforçar a confiança e sair da solidão. Com isso,
estamos salientando que muitas amizades não se desdobram em relações sexuais, o
que seria próprio da orientação homossexual.
Resumo aula 10 -
Adolescência e Juventude | Escolhendo uma profissão – Francisco Ramos de Farias
Alguns seguem a profissão dos pais, outros
“herdam” os negócios da família, mas muitos precisam enfrentar o mercado
de trabalho. A escolha não é fácil, e, em um mundo cada vez mais
concorrido e exigente, ter um diploma de um curso de nível superior se
torna imprescindível para ter um bom currículo.
Em princípio, a escolha de uma profissão,
muitas vezes, coincide com uma época em que o jovem encontra-se em pleno
período de mudanças físicas e psicológicas. Além do mais, em função do
acelerado crescimento físico no período da puberdade, o jovem apresenta a
silhueta de um adulto. Isso faz com que a sociedade e a família julguem
que estão diante de um homem ou de uma mulher. Por esta razão, as
exigências ao jovem se multiplicam e lhe é cobrado um posicionamento com
certa urgência.
Difícil encruzilhada essa em que o jovem se
vê. Ele está diante de uma perda, os tesouros da infância, sem ter nada
para colocar no lugar daquilo que foi perdido. Além do mais, as
aquisições advindas com o processo de maturação próprio da puberdade são
bastante invasivas, ou seja, o jovem se vê diante de situações que não
sabe explicar e, consequentemente, não dão mais lugar às ações da vida infantil
que chamavam a atenção dos adultos.
Maturação e maturidade
É importante estabelecer a diferença entre
maturação e maturidade. Por maturação entendemos o crescimento
fisiológico que tem sua maior expressão na puberdade. Corresponde à evolução da
condição infantil à puberdade, entendida como o desabrochar de certas funções
fisiológicas. Já por maturidade compreendemos o conjunto de transformações
psíquicas necessárias ao acompanhamento das mudanças fisiológicas. A maturidade
deve ser então compreendida como o ingresso na vida adulta.
Nem sempre esses processos ocorrem de forma
simultânea, a ponto de haver maturação sem maturidade.
Diante dessa constatação, o que o espelho
mostra ao adolescente? Abrindo um parêntese, gostaríamos de salientar que, no
âmbito da experiência humana, o espelho mostra a cada um a imagem que é fruto
de um olhar que antecede até mesmo o nascimento do sujeito. Quer dizer, ao nos
colocarmos diante do espelho, vemos uma imagem que traz a marca do olhar dos
outros.
Como entender esse importante momento da
constituição de nossa subjetividade pela imagem? Podemos dizer que, antes mesmo
da possibilidade de cada um de nós ver o mundo ou ver a si próprio, somos
vistos por quem se encarrega de cuidar de nós e garantir nossa sobrevivência.
Esse olhar nos antecede e é fundamental para a constituição de nossos arranjos
psíquicos.
O olhar que nos antecede influencia
decisivamente a nossa vida. Por isso, nos vemos como bonitos ou desejáveis se
temos razões para acreditar que existe alguém que nos acha bonitos ou que gosta
de nós. Quer dizer, o que vemos de nós no espelho é aquilo que imaginamos que
os outros vêem em nós. Por
esta razão, esse olhar primordial, esse primeiro olhar, é fonte de segurança e
nos dá certa estabilidade para enfrentarmos a vida, principalmente se tivermos
sido bem vistos, ou seja, vistos com amor. (...) esse olhar é vida. (...)é, ao
mesmo tempo, fascinante, mas igualmente ameaçador para o adolescente, devido à
preocupação em saber o que as pessoas vêem nele. Por ironia do
destino, é nesse momento difícil que o
adolescente tem de escolher uma profissão, quando o espelho sinaliza para ele
outras questões: as espinhas que aparecem no rosto, as mudanças repentinas nas formas
do corpo, o aparecimento de pelos, a mudança de voz nos jovens e o aparecimento
de seios nas jovens, entre outras.
Não queremos afirmar que a insegurança
acontece somente na adolescência: faz parte da vida, apenas se manifesta mais
intensamente nesta etapa do desenvolvimento psicológico e, também, em situações
da vida em que o homem se vê diante da possibilidade de fazer uma escolha
qualquer que seja. Por isso, é muito importante orientar o adolescente no
momento de decisão quanto à escolha de uma profissão.
No âmbito da prática do trabalho com os
jovens, conhecemos dois tipos de procedimentos utilizados para a realização da
orientação profissional: o modelo clássico e a abordagem clínica. O primeiro é
baseado em premissas estatísticas e, até bem pouco tempo, ficava a cargo de
psicólogos e também pedagogos, quando habilitados em uma especialização para
tal fim, e era feito na própria escola. Consiste no emprego de provas
psicológicas para o conhecimento do tipo de inteligência, das aptidões, dos interesses
e
de traços acerca da personalidade cujos
resultados eram considerados para ajudar o jovem na escolha. Uma vez que os
resultados dessas provas eram computados, o profissional traçava um perfil do
jovem e tentava adequá-lo a um leque de características que sugeriam uma dada
profissão. Assim o futuro profissional do adolescente era determinado.
A outra modalidade denominada de abordagem
clínica utiliza outras estratégias, destacando a entrevista como principal
instrumento no processo. Consiste em questionamentos para que o jovem tome
consciência a ponto de compreender a situação que atravessa, enfrentá-la e,
enfim, tomar uma decisão. Geralmente o questionamento que acontece durante as
entrevistas é centrado, principalmente, em saber quais são as referências do
jovem em termos do conhecimento das profissões, sendo esta situação o momento
de elaboração dos problemas vocacionais.
Com isso, se chega a um diagnóstico sobre
uma possível profissão a ser apresentada ao jovem, mas com procedimentos de
orientação sobre a profissão, principalmente considerando as informações
ocupacionais no sentido de traçar um perfil da profissão indicada.
É interessante observar que a criança é
muito convicta da proflssão escolhida e apresenta fortes argumentos para
justificar sua escolha. Então, o que acontece na adolescência, quando surgem
tantas incertezas e dúvidas quanto à profissão? Quais mudanças teriam ocorrido
na passagem da infância para a adolescência que alteraram completamente este
cenário?
Em princípio, vamos refletir acerca dos
motivos que levam uma criança a, ludicamente, escolher uma profissão.
Provavelmente, a criação de uma criança em termos de brincar em uma dada
profissão é a solução para situações experimentadas em relação a determinados
sentimentos destrutivos, bem comuns na infância, ou seja, pelo fato de a
criança imaginar ter destruído coisas com sua vontade, repara isso
imaginando-se agindo em uma profissão. Tais sentimentos, geralmente dirigidos
às pessoas amadas, como as figuras parentais, são o foco de conflitos
psíquicos, os quais, muitas vezes, ficam adormecidos na infância para
reaparecerem com toda a força na adolescência, especialmente nas circunstâncias
que envolvem a escolha profissional.
Em função de a mente encontrar-se
direcionada e ocupada por esses conteúdos, o adolescente experimenta
sentimentos de angústia bem mais fortes do que na infância ou em outra etapa da
vida. Movido pela angústia desse momento da vida e pelo ímpeto de criar o mundo
a sua volta, o jovem ocupa-se de planejar tarefas que nem sempre são executadas
para solucionar as situações que ficaram pendentes na infância, principalmente
as relativas aos afetos de ódio e de inveja que apontam para a destrutividade.
Quer dizer, um dos possíveis destinos do ímpeto destrutivo da infância é uma
espécie de compensação pela escolha de uma profissão.
Uma pista para pensarmos as vocações é
entendê-las como expressões compensatórias aos objetos que foram, pela
imaginação da criança, danificados pelos seus afetos, visto que a criança
acredita que aquilo que ela diz acontece. Nesse sentido, a escolha de uma
profissão como fruto de uma vocação é uma espécie de reparação de um objeto ou
de uma pessoa que foram alvo do ódio. Quer dizer, a escolha reflete a atitude
de quem julga ter causado algum dano a outrem em função de sentimentos hostis.
Assim, a profissão escolhida pode ser uma espécie de recompensa para esses
sentimentos.
Sendo assim, o objeto ou a pessoa destruída
pelo ódio é geralmente uma pessoa do ciclo das relações da criança, ou seja, é
uma pessoa amada ou um objeto muito querido, o que caracteriza o processo de
destruição como ambivalente. Essa ambivalência está presente no momento da
escolha de uma profissão, daí as muitas dúvidas experimentadas pelo
adolescente nesse momento, pois terá que
produzir uma solução para as situações da infância que repercutem em sua vida,
principalmente no sentido de recriar tanto os objetos quanto as pessoas que
foram danificadas pelos sentimentos destrutivos.
Dificilmente podemos pensar o processo de
orientação profissional sem considerá-lo com um procedimento de reparação.
Reparação
Entendemos por reparação uma série de ações
que expressam o desejo de recriar um objeto ou uma pessoa do mundo externo que
teriam sido destruídos pela criança no âmbito da imaginação. Como a destruição
ocorre de forma imaginária, então a destruição é da representação do objeto ou
da pessoa, quer dizer, ocorre no âmbito interno. A destruição, sendo real ou
não, é acionada pelo ódio ou pela raiva.
Os dois tipos de reparação no processo da
escolha de uma profissão, a compulsiva e a vinculada à tristeza, devem ser
entendidos da seguinte maneira: a reparação compulsiva é movida por uma espécie
de culpa decorrente do remorso relativo à destruição do objeto ou da pessoa no
âmbito da dinâmica psíquica. É um tipo de ação que, ao invés de recriar o
objeto ou a pessoa, acaba por danificá-los ainda mais, pois o sujeito abre
mão de sua autonomia e faz sua escolha
movido por uma compulsão, sem a mediação do pensamento.
A reparação associada à tristeza corresponde
à vertente autodestrutiva. Quer dizer, enquanto que, no primeiro caso, a culpa
é o motor que leva à continuidade da destruição do objeto ou pessoa já
destruídos, no segundo, essa mesma culpa destrói o próprio sujeito.
Da vinculação entre o processo de escolha de
uma profissão e o conceito de reparação, podemos estabelecer algumas deduções.
Em primeiro lugar, a escolha da profissão supõe uma decisão que deve ser
considerada como a elaboração de lutos, tanto o luto pelo paraíso perdido da infância
quanto o luto pelo confronto com os pais da realidade, pois a criança e também
o adolescente lidam com os pais de forma completamente idealizada.
Em segundo lugar, a escolha profissional
representa um grande avanço no processo de construção da identidade, visto que
é na adolescência que a sociedade faz exigências ao jovem em termos de valores
morais, pertencimento a uma religião e engajamento em planos para uma atividade
laborativa.
Em terceiro lugar, é pela escolha de uma
profissão que o jovem tenta responder à pergunta existencial sobre quem ele é,
no sentido de agregar aspectos de sua história passada às prospecções para o
futuro, tendo em mente o presente em que se encontra.
O fator que determina a escolha de uma
profissão é a família, mas de forma bem diferente se comparada às épocas
passadas, em que os filhos simplesmente seguiam as profissões dos pais.
Atualmente os pais orientam, esclarecem e incentivam, porém a escolha final é
do jovem. Então os pais devem dar um bom exemplo profissional aos filhos, no
sentido de amarem e exercerem bem suas profissões. O mais importante é os pais
demonstrarem aos filhos a ideia de que trabalhar é positivo.
A escolha profissional em termos de
realização pessoal corresponde à elaboração dos conflitos infantis em termos da
destruição, pela criança, de objetos e pessoas amadas no âmbito da fantasia. A
destruição feita pela criança produz uma espécie de culpa que o adolescente
tenta reparar, pela criação, na escolha de uma profissão.
A ambivalência trazida da infância decorre
do fato de a criança dirigir seu ódio ou sua raiva para objetos e pessoas
amadas e acreditar que, por isso, estaria causando severos danos a esses
objetos ou a essas pessoas. Por isso, experimenta o sentimento de ambivalência
e tenta solucionar pelo processo de reparação escolhendo uma profissão. Aliado
a esse fato, há o aspecto da insegurança pelo fato de o adolescente
encontrar-se em uma etapa do desenvolvimento psicológico em que não é mais
criança nem ainda adulto e ter perdido o amor incondicional dos adultos sem ter
ainda o reconhecimento
dos mesmos. A insegurança deve-se também às
pronunciadas transformações corporais e hormonais próprias da puberdade
Mas qual o sentido de uma profissão para o
adolescente? Em princípio, podemos admitir que a profissão é vista pelo
adolescente como algo que faz parte de seu universo de questões subjetivas.
Porém, existem aspectos atrativos em algumas profissões e, ao mesmo tempo,
aspectos profissionais que não despertam o menor interesse. Como podemos observar,
acontece com as profissões a revivência de sentimentos que outrora
eram experimentados com as figuras
parentais, em especial a mãe. Isso quer dizer que, da mesma maneira que aprende
a lidar com sentimentos de amor e ódio em relação às pessoas amadas, o mesmo
acontecerá no momento da escolha de uma profissão, caso tenha havido,
minimamente, uma solução dos conflitos em relação a esses sentimentos.
A capacidade do adolescente para escolher
uma profissão advém da capacidade de amor e devoção dirigidos aos objetos
primordiais de amor da infância: em primeiro lugar a mãe, e em segundo as
outras pessoas que fazem parte do universo de relações da criança.
Sendo assim, todas as dificuldades na
escolha da profissão, bem como as dificuldades de relacionamento, são, na
verdade, dificuldades em lidar com o sentimento de culpa da infância. Os
programas de orientação profissional devem seguir duas diretrizes básicas: a)
ser pautado na definição clara e precisa de uma carreira e das condições de
trabalho; b) ter fundamentos para propiciar ao adolescente a aprendizagem e a
escolha de uma profissão que reflita sua identidade vocacional, considerando,
evidentemente, a sua identidade pessoal.
Eis a fundamental importância da escolha de
uma profissão. Primeiro, pelo fato de que, ao escolher uma profissão, o
adolescente se libera, parcialmente, da tutela dos adultos na esperança de que,
futuramente, essa liberação seja completa. Em segundo lugar, esse seria um
destino saudável para a rebeldia própria da adolescência. Quer dizer, o
adolescente, às vezes, se rebela contra os valores familiares escolhendo uma
profissão para ter autonomia e independência. Nesse sentido, a realização do
adolescente não deixa de ser um ideal da sociedade, além de ser um ideal da
família.
É na profissão escolhida que o adolescente
apresenta ou não uma identidade própria. Quando a profissão escolhida é a mesma
dos pais, o jovem faz uma “colagem” de sua identidade à identidade dos pais e
assim sua autonomia fica bastante reduzida em termos de vontade própria.
Porém, quando a profissão escolhida é o
resultado de uma decisão que leve em conta aspectos de natureza subjetiva, o
jovem tem a possibilidade de expressar sua identidade em termos singulares.
A escolha de uma profissão e a idealização
comercial que o mundo contemporâneo produz para o adolescente. Praticamente as
profissões são ofertadas como estilos de sucessos previamente construídos.
Em relação à realização profissional, cada
vez mais o olhar dos adultos e da sociedade se desloca para o adolescente com
um foco determinado: sucesso e felicidade. Eis os ingredientes do adolescente
feliz.
Como conseguir essa felicidade? Imagina-se
que uma boa profissão seria o melhor caminho. Certamente, o adolescente
realizado em uma profissão pode realizar antigos sonhos dos pais que foram
deixados para trás.
Sendo assim, muitas vezes, a
profissionalização dos filhos pode estar a serviço de um ideal dos pais e,
ainda, o filho ter o encargo de satisfazer as frustrações dos pais.
Pelas razões expostas, o jovem, no momento
de escolha de uma profissão, deve procurar um serviço de orientação
profissional para conhecer suas vocações, bem como explorar as potencialidades
de cada profissão antes de se decidir por uma. É importante haver esse tipo de
acompanhamento, especialmente pelo fato de que, nesta etapa do desenvolvimento,
o jovem está vivendo inúmeras transformações em seu corpo e também novos
horizontes se abrem em termos de sua dinâmica psíquica.
Resumo aula 11 -
Adolescência e Juventude | Gravidez na adolescência – Francisco Ramos de
Farias
De acordo com as
estatísticas do Ministério da Saúde, produzidas pelo DATASUS (Banco de Dados do
Sistema Único de Saúde), nas duas últimas décadas do século XX, mais de 10% dos
partos eram realizados em mães adolescentes e, no alvorecer do século XXI, esse
percentual dobrou. Alguns dados dessas estatísticas merecem maior atenção: a
maioria das adolescentes que engravidam apresentam baixa escolaridade. Mas
mesmo entre as adolescentes que cursam o ensino médio e as que ingressam na
universidade, a gravidez apresenta números consideráveis.
Muito mais forte do que o
acesso ao conhecimento dos métodos de prevenção é a crença dos jovens de que
quando há amor não é preciso se prevenir, e que gravidez e doenças sexualmente
transmissíveis acontecem somente com outras pessoas. Existem também as
desculpas de que não houve tempo para conseguir os preservativos ou que a
parceira ou o parceiro não gostam de ter relações com tais métodos. Há, também,
mais entre as adolescentes, a crença de que uma gravidez pode servir para
segurar o namorado e daí caminhar para o casamento.Certamente, com todas as
mudanças que ocorreram no cenário mundial e as novas concepções sobre união
conjugal, temos uma nova concepção de casal. Nos tempos atuais, o casal não é
somente a consequência de um acordo matrimonial. Isso nos faz pensar que os
jovens falam de amizade, de amor e igualmente de sexo. Quer dizer, não só falam
de sexo, mas têm uma vida sexual ativa. Além de se amarem e terem relações
sexuais, os jovens gostam de fcar juntos. Mas, muitas vezes, o “ficar”, ter uma
amizade ou mesmo um namoro podem resultar em uma gravidez inesperada.
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Havia, por parte dos
estudiosos, educadores e profissionais da área da saúde coletiva, a expectativa
de que, com a difusão das informações pelos meios de comunicação, houvesse uma
certa contenção no aumento da natalidade entre jovens, principalmente por se
pensar que em muitos casos o fator determinante era a falta de esclarecimentos.
No entanto, apesar de os jovens se tornarem ávidos por informações sobre os
assuntos relacionados ao sexo, isso não interferiu na ocorrência de gravidez
nesta faixa etária. Assim, podemos concluir que uma coisa é ter acesso às
informações sobre a sexualidade, outra é a reflexão sobre as complicações de
uma gravidez, em uma idade muito jovem, sem as devidas condições sociais,
pessoais e emocionais.
Quando ocorre o ingresso
na adolescência, a menina se depara com diversas transformações tanto
corporais, decorrentes da puberdade, quanto emocionais, devido ao mundo
infantil recém-perdido. Todas essas transformações acontecem de maneira muito
rápida e, devido à velocidade com que ocorrem, parecem produzir um certo
desequilíbrio entre os aspectos da vida racional e a vida emocional. De onde,
então, provém tal desequilíbrio? Certamente o fator determinante é a descoberta
do próprio corpo, bem como a descoberta do corpo do outro. Isso quer dizer que
o jovem se depara com uma quantidade enorme de informações sobre seu próprio
corpo e sobre o corpo de seu semelhante, sem ter tempo hábil para elaborá-las
de maneira precisa. Ao invés de certezas, o jovem é movido por muitas dúvidas
e, mesmo tendo tido acesso a muitas informações, não consegue pô-las em
práticas.
Como a adolescente se vê
diante de seu corpo de menina transformado em corpo de mulher, então crê que
deve colocar em prática a realização do tornar-se mulher pela gravidez. Eis a
consequência do crescimento dos seios e da menarca que atestam para a
adolescente a prontidão ao exercício da reprodução.Com respeito ao jovem
adolescente, vamos destacar a ideia de autossuficiência, bastante cultivada e
presente nessa etapa da vida também nas adolescentes. O sentimento de
autossuficiência tem consequências bem desagradáveis, que vão desde a exposição
a situações de risco até a indiferença, o que pode resultar em uma gravidez
indesejada. Em muitas circunstâncias, a gravidez para o adolescente significa
apenas
a prova de uma prática
sexual convincente, mas que necessariamente não inclui o vínculo amoroso.
Diferentemente das jovens adolescentes, para quem no início da sexualidade não
haveria a dissociação entre dois tipos de homens, estando unidos o vínculo
amoroso e a vida sexual.
O RELACIONAMENTO COM A
FAMÍLIA
A gravidez na adolescência
representa, para os pais, uma certa frustração nos projetos que idealizaram
para os filhos. Quase sempre é uma fonte de insatisfações e de conflitos,
principalmente em função dos rearranjos que terão de ser feitos na estrutura da
família, seja da jovem mãe, seja do jovem pai.
Para a adolescente a
gravidez pode significar a confirmação de um vínculo amoroso, para o jovem
tem-se apenas uma prova de sua virilidade.
Os diálogos entre pais e
filhos, quando acontecem, geralmente são focados em torno de questões de cunho
reprodutivo, ficando de fora assuntos ligados ao prazer e à satisfação sexual.
Há nisso um descompasso, pois enquanto o jovem está interessado em romances,
aventuras, paixão e amor, a família e, muitas vezes, a escola abordam a
temática
da sexualidade apenas sob
o ângulo da procriação.
Os pais podem utilizar
recursos, como as informações que são divulgadas pela mídia, de modo a trazer a
questão para discussão no âmbito da família. Seria uma boa estratégia, que
teria a finalidade de preservar a intimidade do adolescente.
As mudanças no âmbito
familiar se explicam pelo fato do jovem que será pai ou a jovem que será mãe
buscarem em seus pais proteção e segurança para realizar o que pode ser um
sonho de liberdade e de independência. Geralmente a jovem se apega mais à mãe,
enquanto que o jovem tenta encontrar em seu pai a força de que precisa para
atravessar a situação. No campo do relacionamento amoroso, pode acontecer que
quando a jovem engravida perca o interesse pelo parceiro, pois estaria
mais voltada para a realização da maternidade, e as mudanças na vida social se
explicam pelo fato de que há uma nova tarefa que deve ser planejada para a
chegada da criança. Há também o aumento de responsabilidade, principalmente da
mãe, sobre os cuidados necessários para a saúde de seu filho como evitar
bebidas, cigarros, drogas, noitadas e outras situações que coloquem em risco a
gravidez.
REAÇÕES DOS ADOLESCENTES À
GRAVIDEZ
Existem muitas
expectativas na jovem grávida em relação à experiência de ser mãe e também quanto
à responsabilidade de educar. Sem dúvida, a vida da futura mãe passará por
mudanças significativas, embora a vida do jovem pai, quando há conscientização,
também mudará. Isso
quer dizer que para ambos
há uma certa dose de ansiedade no que diz respeito à chegada de uma criança,
pois deverão projetar um futuro que inclua uma criança ao lado dos projetos de
formação profissional, viagens e outras tantas situações que povoam o
imaginário dos jovens.
Quanto à não aceitação do
jovem ante a condição de paternidade, o que o leva, muitas vezes, a abandonar a
adolescente, podemos indicar duas possibilidades: a) a incompreensão das
questões relativas à gestação e b) as dificuldades relativas ao exercício da
paternidade. Na grande maioria das situações de gravidez na adolescência, o
parceiro desaparece, não ajudando a jovem mãe nas tarefas destinadas à criança.
Isso representa, para a
jovem mãe, uma certa desproteção, mesmo que tenha todo o apoio familiar. De
certo modo, a saída de cena do jovem pai é sentida pela jovem mãe como uma
grande decepção com relação ao projeto de uma vida a dois. Certamente, cai por
terra a esperança de ter sentimentos compartilhados. É por isso que em muitas
circunstâncias o sonho de aventura idealizado pelos jovens de terem uma vida a
dois pode transformar-se num grande pesadelo.
Para finalizar, cabe
salientar que tanto a jovem quanto o jovem, por não terem ainda elaborado as
questões próprias da adolescência, não terão maturidade suficiente para impor
limites para a criança, mesmo porque ainda estão na fase de demarcação de seus
próprios.
A gravidez na adolescência
na atualidade é um fator de risco para a vida dos jovens, seja pela falta de
maturidade emocional, seja pela falta de condições materiais que os jovens
ainda estão em vias de se especializarem para produzi-las. Mas, quando
acontecer, o apoio da família é importante para ajudar os jovens na passagem da
adolescência à vida adulta, que se dá de maneira forçada, ou seja, a situação
impõe aos jovens condições como cuidar do filho, adiar os estudos e projetos,
entre outras, diante das quais não terão quaisquer alternativas a não ser
atendê-las.
As informações sobre o
processo de reprodução não devem ser confundidas com as informações sobre a
sexualidade, e é nisso que muitas campanhas falham, seja nos conteúdos
escolares da disciplina Programas de Saúde, seja nas campanhas veiculadas pela
mídia, cujo acento recai na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
A gravidez na adolescência
pode ser explicada por vários fatores: a) a dificuldade de colocar em práticas
as informações que circulam nas campanhas de prevenção ou as informações
recebidas no contexto familiar; b) a possibilidade de realização para a jovem e
a condição de afirmação da masculinidade para o jovem; c) descuido e imperícia;
d) minimização e indiferença em relação à situação, decorrentes da atitude de
onipotência, e e) avaliação equivocada das consequências de determinados atos.
As mudanças mais
significativas que a gravidez na adolescência pode provocar para os jovens são
o afastamento ou abandono da escola, tanto para a jovem mãe, que terá o encargo
dos cuidados da criança, quanto para o jovem pai, que, muitas vezes, tem de
ingressar no mercado de trabalho para garantir o sustento do filho. Além disso,
os projetos de construção de uma vida a dois terão que passar por uma mudança
radical a ponto de incluir a criança.
As alternativas
idealizadas pelos jovens diante da gravidez são três: a) recorrer a uma clínica
de aborto para interrupção da gravidez; b) ter a criança e educá-la contando
com a ajuda de familiares; e c) ter a criança e procurar setores de adoção.
A gravidez na adolescência
resulta de vários fatores. Na jovem pode ser vista como a possibilidade de
realização da condição relacionada ao ser mulher. No jovem pode ser o ponto de
afirmação de condição viril.
A gravidez na adolescência
pode adiar ou mesmo impedir a realização de determinados projetos de vida, além
de ser um fator de risco à saúde da mulher que, apesar da prontidão para a
procriação, pode ainda não estar fisicamente e emocionalmente preparada.
Resumo aula 12 -
Adolescência e Juventude | Drogas, toxicomania e o falso paraíso –
Francisco Ramos de Farias
A adolescência, conforme vimos, é uma etapa
da vida afeita ao desafi
o, às aventuras e às tentativas de
ultrapassar limites. É próprio do adolescente a intolerância à espera, à
frustração e, por decorrência, quaisquer determinações que signifiquem esperar
um tempo para realizar determinados projetos.
Devido a isso, constituem uma população de risco
em relação ao consumo de substâncias químicas.As drogas existiram ao longo da
história em quase todas as culturas. O homem, para buscar o prazer ou para
atenuar o sofrimento físico ou psíquico, não hesitava, e nem hesita, em
recorrer a substâncias que provoquem um
estado artificial de bem-estar. Assim foi e
assim tem sido. É importante ter clareza sobre essa questão para que não se
adote uma postura negativa na análise do problema nem uma postura de cunho
moral para correr o risco do afastamento de uma visão racional.
O uso de drogas simboliza, para os jovens, o
estado adulto. Esse é um fator que muito contribui para o consumo. Ao lado das
drogas legais, há também o consumo das drogas ilegais, que apresentam sérios
problemas, que começam com os mecanismos de aquisição, pois estão articulados
ao narcotráfico.
Drogas
A palavra “droga” deriva-se do holandês
droog, cujo significado é folha seca. Define-se
por droga qualquer substância, legal ou
ilegal, natural ou produzida sinteticamente que, uma vez introduzida no
organismo, provoque alterações consideráveis e visíveis no seu funcionamento.
Adição
É definida como a tendência não controlável
para a realização de uma ação, geralmente dirigida a um objeto, no caso a
droga. Pela adição, o sujeito sente-se impelido para tal objeto, acreditando
que não dispõe de forças para evitar a aproximação com o mesmo.
As práticas de repressão ao narcotráfico,
bem como o controle do consumo de substâncias químicas, têm, no mínimo, uma
história interessante e paradoxal. Como sabemos, as potências imperialistas do
mundo ocidental não se pouparam em utilizar, desde o século XVII, a força de
armamentos pesados e o ópio para submeter a Indochina aos seus interesses. O
ópio era comercializado livremente, pois possibilitava lucros fabulosos aos
mercadores ocidentais, principalmente os norte-americanos e ingleses.
Com a invasão pela Inglaterra, no final do
século XIX, aconteceu, por força do domínio dessa potência ocidental, a
abertura do mercado para o comércio da droga.
É interessante lembrar que, em cerca de dois
anos, a China importou mais de duzentas toneladas de ópio e aproximadamente
mais de treze milhões de chineses consumiam a droga. Apenas no fnal da primeira
década do século XX é que a China conseguiu abolir o tráfico do ópio, sendo por
isso a primeira nação do mundo que venceu o flagelo da adição de drogas.
Em princípio, temos que destacar que a
adolescência é a etapa da vida movida por certos tipos de pensamentos. Além da
propensão para a aventura, o adolescente é habitado por ideias onipotentes de
que, mesmo consumindo drogas, com ele nada do que é divulgado pela mídia irá
acontecer. E ele ainda cultiva a crença de que pode largar a droga na hora que
bem quiser, ideia bastante ilusória.
Temos também um outro fator a considerar: o
contexto da cultura contemporânea, que tem como característica fundamental a
busca de realização, de bem-estar imediato, a busca, por quaisquer meios, da
manutenção da juventude, a exigência de ter um corpo que circule no mercado
como objeto desejável e valorizado.
O adolescente, ante o novo corpo, sente um
abalo significativo em seus sentimentos, especialmente em relação à iminência
de viver um corpo que lhe parece estranho e do qual acredita ter perdido o
controle.
Diante das ocorrências corpóreas que são
vividas como uma espécie de estranhamento, não aceitação e fragmentação do
corpo, o jovem pode recorrer à droga, na tentativa de encontrar um objeto que
signifique a união das sensações vividas. Porém, essa unificação de sensações é
algo passageiro e bastante precário.
Na maioria das vezes em que um adolescente
faz sua incursão nas drogas, a família tem na sua trajetória a postura de
cuidar de suas crianças com práticas excessivamente compulsivas. É comum, nas
mínimas situações de desconforto da criança, os pais em seu socorro recorrerem
a analgésicos e antiespasmódicos. Assim, desde cedo, a criança é ensinada, a
qualquer sinal de dor física ou de sofrimento psíquico, a recorrer a uma
substância química para obter alívio.
É oportuno lembrar que em muitas residências
as bebidas são colocadas em um local estratégico valorizado, uma espécie de
móvel com vidros que deixam visíveis bebidas e copos, bem como os belos
cinzeiros que ornamentam as salas de estar.
O efeito de excitação induzido pela droga é rápido
e, quando passa, o vazio se acentua ainda mais, razão pela qual o sujeito
precisa de quantidades maiores de drogas para alcançar o efeito. Qual a
consequência disso? O jovem tenta, pelo uso da droga, evitar situações difíceis
ligadas ao sofrimento, porém não consegue evitar os seus efeitos. Desse modo, a
droga, ao mesmo tempo em que é usada para alívio da dor,
provoca dores que dificilmente são passíveis
de solução.
A diferença no uso de substâncias químicas
praticado pelos povos antigos e sociedades primitivas, em comparação com o uso
dos povos considerados civilizados e modernos, diz respeito ao fato de que os
antigos e primitivos recorriam a essas substâncias em rituais para entrar em
contato com divindades ou para terem poderes mágicos, mas sem ficarem
dependentes dessas substâncias. O homem moderno recorre às drogas na busca de
satisfação imediata, respondendo aos apelos da mídia em termos do consumo e
tornando-se escravo dessas substâncias.
As principais causas que explicam a grande
incidência dos jovens no universo das drogas são:
• o estímulo pela mídia ao consumo de drogas
legais como forma de status, bem-estar e realização profissional;
• a atitude dos jovens de superar
obstáculos, vencer desafios e transgredir os limites estabelecidos socialmente;
• as condições familiares que acostumam o
jovem, desde criança, ao uso de substâncias que produzam alívio;
• a busca de solução para as situações de
vazio provocadas pelas perdas;
• o choque do jovem em relação ao confronto
com as exigências impostas pela sociedade.
DIFERENTES TIPOS DE USUÁRIOS DE DROGAS
No contexto das drogas legalizadas,
encontram-se todos os produtos que contêm a nicotina, o álcool e os
medicamentos, especialmente os que são comercializados em caixas de tarja
preta. Todas essas drogas são oferecidas em campanhas publicitárias, que
apresentam os benefícios, mas também esclarecem os danos que podem causar,
principalmente o fumo e o álcool. São substâncias comercializadas sob controle
legal e
muitas delas, como o álcool, são vendidas
livremente até em supermercados.
Denominam-se drogas ilegais ou ilícitas
todas as que são proibidas pela lei, em termos de produção, comercialização e
consumo, como a maconha, a cocaína, a heroína, o crack e o ecstasy. A maioria
das drogas ilegais é sintética, pois são substâncias produzidas em laboratórios. O
consumo dessas drogas produz mecanismos rápidos de destrutividade, seja pelos
efeitos causados ao organismo, seja pelos riscos a que o sujeito se expõe para
consegui-las.
As drogas apresentam graus variados de
destruição. A maconha parece ser a droga ilegal com menor poder de
destrutividade e é a única que não causa dependência física. Além disso, não se
conhece nenhum caso de alguém que tenha morrido de overdose de maconha.
Dentre as drogas ilegais com alto poder de
destrutividade, temos o crack que causa dependência física e deterioração do
corpo de tal forma que faz com que o usuário dificilmente consiga parar de
consumi-lo uma vez tendo começado. Com relação às drogas injetáveis, há ainda um
fator a ser considerado que aumenta a destrutividade: a contaminação por
doenças sexualmente transmissíveis, principalmente quando as seringas são
compartilhadas.
É mais frequente do que se pensa o uso
eventual de drogas lícitas e ilícitas. No caso das drogas lícitas, como o
álcool e a nicotina, temos o que se denomina de “uso social” que, muitas vezes,
está relacionado ao ritual de pertinência a um grupo ou a determinados tipos de
atividades artísticas, esportivas, entre outras. Pode acontecer também o uso em
situações de lazer.
Podemos afirmar que existem dois tipos de
usuários de drogas:
1) Aqueles que são apenas provadores. Estes
usuários, geralmente adolescentes, participam da experiência da droga por
curiosidade ou por pressões do grupo ao qual pertence, mas não seguem o consumo
de forma sistemática
2) toxicômanos ou drogaditos, que são os
usuários que têm com a droga uma relação impulsiva e sistemática, com
dependência química e psíquica. Daí conhecermos o termo “toxicomania” ou
“drogadição”.
O CONSUMO DE DROGAS E SUAS CONSQUÊNCIAS
Em certo sentido, o efeito do consumo de
drogas poderia ser comparado, imaginariamente, ao personagem Popeye, marinheiro
de um desenho animado que, vendo-se em apuros, come uma lata de espinafre para
ganhar forças e domínio. A ingestão da substância produz uma rápida
transformação: a aquisição de uma musculatura forte e de poder. Também vencia
todos seus inimigos. Eis a fantasia que povoa a imaginação das pessoas que usam
drogas, as quais buscam forças sobrenaturais,
aumento de sensibilidade e melhoria da
imaginação.
Isso é a porta de entrada ao mundo das
drogas. Com o passar do tempo, a situação torna-se bastante grave,
principalmente quando se instala no sujeito um mecanismo do tipo “bola de
neve”.
As drogas são a segunda maior fonte de
renda, perdendo apenas para o mercado de
fabricação de armas.
A overdose é uma fórmula mágica de o sujeito
pôr fim a tudo, inclusive à própria vida, como acontece quando ele, totalmente
dominado pelo efeito da droga, se lança do alto de um prédio ou mata alguém.
Sem dúvida, esse estado é o final do
processo de destruição. Mas paira uma questão no ar: não se sabe se o sujeito
precipita seu fim por não suportar o sofrimento que vive com a droga ou se
tenta um vôo em direção à liberdade. São questões intrigantes em relação às
quais só nos cabe refletir
AS DROGAS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
A toxicomania, no cenário do mundo
contemporâneo, está estreitamente associada a dois grandes indutores do
consumo. Por um lado, as constantes guerras, na segunda metade do século XX,
aliaram-se ao progresso científico no sentido da produção de substâncias que
amortecessem a dor, visando com isso à manutenção de
soldados em prolongadas jornadas de
atividades. Provavelmente teria
sido produzida, nessas circunstâncias, a
heroína.
A droga pode ser, para o adolescente, um
recurso contra o mal-estar, próprio desse momento da vida, tendo, na maioria
dos casos, a significação de atividade iniciática, o que é muito comum na
formação de bandos e de condutas de risco. Em segundo lugar, o consumo de
drogas pode ser considerado, pelo adolescente, como uma espécie de provação, ou
seja, atitude de desafio junto à família ou aos espaços institucionalmente
constituídos como a escola, o trabalho, entre outros.
Diferentemente de épocas antigas, em que o
uso de substâncias químicas estava relacionado a rituais sagrados para aguçar a
capacidade de comunicação do homem com entidades divinas, na atualidade o
consumo decorre de uma vontade e decisão do sujeito em participar de um contexto
modelado por determinadas premissas econômicas e pela difusão dos efeitos
causados pelos poderes de certas substâncias.
O alcoolismo, a dependência de nicotina e a
toxicomania são, na atualidade, grandes problemas para a sociedade, os pais, os
educadores e principalmente para os agentes do campo da saúde coletiva. Essa
questão torna-se mais grave quando focalizamos a droga na adolescência.
Primeiro, pelo fato de que a droga permite a louca fantasia de aumento de
capacidade, de coragem, além de ser vista como a senha de entrada no mundo
adulto.
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